Valdeck Almeida de Jesus
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LUTA CONTRA OS ‘JUÍZES DO BOM GOSTO’
Foto by Tomás Rangel

Por Ramon Mello
Colaboração: Fernanda Moraes


Jean Wyllys é jornalista, professor universitário e escritor. Seu primeiro livro Aflitos, foi premiado em 2001 na Bahia e tem a orelha assinada pelo escritor Antonio Torres. No entanto, foi pela participação na quinta edição do programa Big Brother Brasil, que Jean ganhou projeção nacional.

Após a saída do reality show, ele escreveu Ainda Lembro (Editora Globo), uma coletânea de crônicas sobre a experiência no programa e contos do primeiro livro - mais de 100 mil exemplares foram vendidos.
 
A exposição na mídia abriu muitas portas para o baiano de Alagoinhas, mas também atraiu o preconceito de alguns para o seu trabalho. Jean, porém, não teme as críticas destas pessoas e as nomeia de ‘juízes do bom gosto’.

Convidei Jean para uma conversa no Café Vommaro, em Copacabana, bairro onde mora. Depois de uma pequena confusão com os horários, iniciamos a conversa que se pautou na sua relação com a escrita.

 
Click(IN)VERSOS – Jean você é jornalista e escritor. Até que ponto ter participado do BBB atrapalha exercer estas profissões?

JEAN WYLLYS –
Não atrapalha absolutamente em nada, sou muito grato por ter participado do Big Brother. O programa me deu uma visibilidade nacional, me jogou no debate e me deu existência. Deixei de ser um escritor baiano para me tornar uma ‘persona’ conhecida no Brasil inteiro. Não atrapalha minha atividade como escritor, em nenhum momento eu parei de escrever. Mesmo tendo trabalhado em programas de televisão eu não parei de escrever meu novo livro, meu blog e minha coluna na G Magazine. Eu diria que a minha participação no programa atrapalha a leitura que os ‘juízes do bom gosto’ fazem do meu trabalho.

Click(IN)VERSOS – Quem são os ‘juízes do bom gosto’?

JEAN WYLLYS –
São os críticos literários, as pessoas que em tem opinião publicada em jornais, as pessoas que fazem seleção dos editais de incentivo a cultura. Esta gente, chamada ‘inteligensia’, tem seus preconceitos. O programa criou uma reputação não muito boa com essas pessoas porque os participantes depuseram contra. Mas eu não tenho medo de brigar contra a tradição. Essa gente não tem coerência entre discurso e prática. Minha vida sempre foi resistir: sobreviver, nascer e me criar abaixo da linha de pobreza; sair da periferia de Alagoinhas; ir para Salvador me tornar jornalista e resistir. Vou à luta pelos meus direitos! Direitos como gay, direitos como escritor baiano e direitos como celebridade produzida em reality show. Como diz Mário Quintana: ‘Para aqueles que estão aí atravancando o meu caminho, eles passarão, eu passarinho.’ Baterei asas!
                                                                        Fotos: Tomás Rangel

Click(IN)VERSOS – Você sente esse preconceito por ter participado do BBB?

JEAN WYLLYS – Sim!Na feira do livro de Porto Alegre, teve um escritor muito conhecido que se recusou a sair para jantar com o grupo se eu estivesse junto. Mas tive dúvida se o preconceito era por eu participado do BBB ou pelo fato de eu ser gay. Existe preconceito em relação ao Big Brother sim. Mas existe preconceito de uma forma geral com quem se relaciona com o mercado. Qualquer artista que estabelece uma relação com o mercado é depreciado por esses ‘juízes’. Isto vale para o escritor. Se considerarmos os casos típicos na história da literatura, vamos perceber que os escritores que viveram (ou vivem) exclusivamente de literatura foram considerados escritores menores, por exemplo: Jorge Amado, Érico Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro e Paulo Coelho. Como se a qualidade literária estivesse ligada ao mercado ou se o ofício literário fosse obra do ‘Espírito Santo’. Se já existe esse preconceito, imagine para uma pessoa - professor universitário, escritor e jornalista - que decide participar de um programa de massa que é extremamente depreciado.

Click(IN)VERSOS – Por que participar do reality show?

JEAN WYLLYS – Foi tudo muito banal, todo começo é banal. A gente, olhando pelo retrovisor, dá uma magnitude à narrativa que construímos depois. Eu estava assistindo TV na Faculdade Jorge Amado, onde eu dava aula de ‘cultura brasileira’, quando a atriz e professora Jucilene Santana perguntou se eu participaria do programa. Respondi que sim, mas tinha medo de perder tudo. Aceitei o desafio, fiz um vídeo com Danilo Escaldaferi e me inscrevi no último dia da prorrogação. Eu corri poucos riscos na vida, sou arrimo de família, trabalho desde os 10 anos, então achei que era o momento de me arriscar. Me joguei no Big Brother depois de ter implantado uma pós-graduação de jornalismo e direitos humanos. Imagina como isto causou estranheza nas pessoas! Mas fiquei feliz, o povo me abraçou, se identificou por minha história.
Click(IN)VERSOS – Os jornalistas costumam eleger os brothers que ‘deram certo’ e sempre citam Grazi, você...

JEAN WYLLYS –
Não compactuo com isso. Acredito que dar certo é estar feliz com o que você é. Acho que muitos deles ‘deram certo’ porque estão fazendo aquilo que querem. Eu estou muito feliz com o meu lugar no mundo, que conquistei depois do programa.
O saldo é muito positivo. Por exemplo, vai ter uma conferência nacional da AGLBT (Associação de Gays Lésbicas, Bissexuais e Travestis) e fui indicado para ser conferencista, como sugestão da comunidade. Não tem preço se tornar uma referência positiva por direitos civis e direitos humanos. Hoje tem um grupo enorme de leitores, que sensibilizo e emociono, é tudo que eu queria como escritor. Vendi mais de 100 mil exemplares de livros. Isto sem considerar que o leitor do livro não é o leitor da G Magazine e nem do meu blog.

Click(IN)VERSOS – Você é professor universitário. Como é a sua relação com o universo acadêmico?

JEAN WYLLYS –
Percebo que na academia há uma reprodução do discurso do orientador e um cuidado para não ferir a repetição da linha de pesquisa. Falta um conhecimento mais libertário, precisamos de uma ‘algazarra teórica’. A academia disciplina o processo criativo de uma pessoa, mas para toda disciplina há resistência. Porém, na academia também há pessoas incríveis como Silviano Santiago e José Miguel Wisnik.
 
Click(IN)VERSOS –  Você ministra aulas na ESPM. Como é ser professor após a participação no BBB?

JEAN WYLLYS – As aulas já eram um show antes do programa. Tenho uma coisa de show man quando dou aula, faço muitos links com cultura de massa e a cultura erudita. Por causa do programa, tem muita gente que vai à aula para ver como é a minha performance como professor. Também sou muito convidado para dar palestras em instituições do ensino médio e superior.

Click(IN)VERSOS – Você já trabalhou como roteirista e repórter do programa da Ana Maria Baga. Você pretende voltar a trabalhar na televisão?
JEAN WYLLYS – Eu vou voltar a trabalhar em televisão. Estou fazendo um programa para o Canal Brasil chamado Armário Embutido, com o cineasta Luiz Carlos Lacerda, o Bigode. É uma revista com uma linguagem próxima ao documentário.

Click(IN)VERSOS – Existe literatura gay?
 
JEAN WYLLYS – Claro que não existe uma literatura gay, existe uma literatura. Toda literatura é marcada pela experiência de quem a escreve. É óbvio que a minha literatura está marcada pela minha identidade sexual, mas isto não configura a minha literatura de gay. Nunca chamei o que Machado de Assis escreve de ‘literatura hetero’
 
Click(IN)VERSOS –  Você sentiu algum retorno por ter assumido em rede nacional a sua condição sexual?
 
JEAN WYLLYS – Tive um retorno amplo, não dá para medir o impacto positivo na vida dos gays. E fico feliz com a representação positiva com minha aparição no programa: inteligente, sensível e não tão afeminado (RISOS) Sim, porque não abro mão dela. Recebi muitos depoimentos de gays sobre essa representação. Os gays têm de fazer o que os negros fazem na Bahia com Ilê Aiyê: ‘Os mais belos dos belos sou eu sou eu! Bata no peito mais forte e diga: Eu sou eu!’ É isso: black is beautiful! O gay tem que pensar nesta representação.

Click(IN)VERSOS –  Você  diz na abertura do livro Ainda Lembro: ‘Como todo escritor – embora alguns finjam que não - quero ser livro, circular, estar na prateleira, quero ser Paulo Coelho ’. É isto mesmo?

JEAN WYLLYS – Isso foi tão mal interpretado pelos rancorosos, pelos que alimentam ‘mágoa de cabocla’. (RISOS) Eles leram isto com arrogância. Não é que desejo ser Paulo Coelho. Citei o escritor porque ele é rejeitado e depreciado pelo cânone, mas vende e penetra no coração de muita gente. Paulo Coelho é o modelo que estabeleceu para além do que é julgado como o que é literatura boa ou ruim.
 
Click(IN)VERSOS –  Ainda no segundo livro, você diz que deve-se perguntar ‘quando é literatura?’ e não ‘o que é literatura?’...

JEAN WYLLYS – Sim. Quando é literatura? Quando sensibiliza, emociona e politiza a existência é literatura. Foucault diz o livro é só um paralelepípedo, quem confere valor literário é o leitor. Quando o livro te mobiliza é literatura.
 
Click(IN)VERSOS –  Por que você escreve?

JEAN WYLLYS – No livro eu cito o Joaquim Pedro de Andrade, que responde que faz cinema para chatear os imbecis... Gosto muito da reposta dele. Eu diria que escrevo porque é imperativo, porque é o meu melhor canal de expressão. Escrever para intervir, para dar meu palpite e para colocar meu pingo no ‘i’.
 
Click(IN)VERSOS –  Por que seu primeiro livro Aflitos aborda tanto a violência?

JEAN WYLLYS – Esse livro traz muito a minha experiência como jornalista, com as notícias de violência. Sempre me interessei pela vida dos fracassados, pelas pessoas que recebem um péssimo jogo da vida. A imagem do colorido do Carnaval da Bahia esconde uma Bahia escura e subterrânea. O nome do livro é Aflitos porque gosto do nome de um lugar na Bahia chamado o Largo dos Aflitos. Esse livro é uma outra leitura da Bahia.
 
Click(IN)VERSOS –  Você cita muito versos da MPB na sua literatura. Por quê?

JEAN WYLLYS – Eu adoro a música popular brasileira. Não consigo entender a minha vida sem música. Adoro as cantoras. Com meu pai, que era pintor de automóveis e pintava na noite, eu passei a consumir música. Há letras de música que são peças literárias, isto muito me atrai. Gosto muito do Caetano Veloso, do nome próprio Caetano Veloso, Zeca Baleiro, Chico Buarque, Marcelo Camelo, Otto... Amo a Rita Ribeiro. Dirigi o show ‘Meninas do Brasil’ com Tereza Cristina, Rita Ribeiro e Jussara Silveira. Tenho uma relação muito forte com a música. Mas tenho quatro paixões na vida: jornalismo, cinema música e literatura.
 
Click(IN)VERSOS –  O que você tem lido?

JEAN WYLLYS – Acabei de ler as correspondências entre Mário Andrade e Drummond. Li Entre Nós, do Luiz Ruffato, com contos de temática gay. E li todos os livros do André Conte-Sponville. Gosto de ler novos autores: Alex Leila e Lima Trindade... Quero ler A História Sexual da MPB, do Rodrigo Faour.
 
Click(IN)VERSOS –  Você está escrevendo o seu primeiro romance?

JEAN WYLLYS – Sim, chama-se Romances com o Coração, pela editora Globo. Ainda estou escrevendo, está no tempo de maturação. É uma história linda e feminina.

Click(IN)VERSOS – O que você diria para um jovem que deseja ser escritor?

JEAN WYLLYS – A primeira coisa que se tem a fazer é escrever! Sentiu vontade? Escreva, sempre.

Fonte: My Blog (in) Verso
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 12/03/2008
Alterado em 12/03/2008
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