O POETA LUAR DO CONSELHEIRO É ENTREVISTADO POR VALDECK ALMEIDA DE JESUS
Aidner Mendez Neves, O Luar do Conselheiro é Poeta, Escritor, Compositor, Cantador, Romancista, Cordelista, Autor e Roteirista. Seus versos, canções e sua literatura são marcados pelo regionalismo que remete a Canudos e ao Cangaço. O poeta está ligado a diversas áreas de arte, cultura e educação. Um amante da Etnobotânica, um filho da Enteogenia e, acima de tudo, um aluno da História. Foi agraciado com o Título de Griô, Mestre de Cultura Popular concedido pelo Ministério da Cultura, além do título de Conselheiro das Águas, pelo então SRH, hoje INGÀ, Instituto de Gestão das Águas. Luar é, também, o idealizador e coordenador do Projeto Boca do Rio Cultural, Casa da Memória da Boca do Rio.
VALDECK: Quando e onde nasceu?LUAR AIDNER: Nasci no dia 21 de Julho de 1983, no Rio de Janeiro. Porém, desde os dois anos de idade resido em Salvador, Bahia.
VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?LUAR AIDNER: Sim, A experiência acumulada com as idas e vindas pelo árido sertão nordestino consolidou minha identidade de poeta popular, em trajetória que incluiu passagem por: Canudos, Uauá, Monte Santo, Região Sisaleira da Bahia, e também o Sertão Moxotó, Sertão do Pajeú e Sertão Central em Pernambuco, entre tantas outras localidades sertanejas. Mas já morei no Rio Grande do Sul e em Brasília. Já fora do país, na Espanha, pátria de meu avô materno; tenho um artigo publicado em Portugal, país que visitei rapidamente quando das minhas idas a Espanha.
VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?LUAR AIDNER: No início da adolescência tive acesso à literatura de cordel e influências de Cantadores e Violeiros, como Ivanildo Vilanova, Zé de Laurentino, Xangai, Elomar, Fernando Guimarães, Vital Farias, Wilson Aragão, entre muitos outros nomes conhecidos na Bahia. Penso que a poesia e o cordel me levaram a escrever outros gêneros.
VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesias ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?LUAR AIDNER: Transito por diversas áreas da literatura e da poesia, gosto muito da poesia livre, da literatura de cordel. Mas me encanto com o mundo do romance, que em todos os casos é carregado de fatos reais por entre a ficção. Não me furto de escrever biografias, Roteiros e artigos.
VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?LUAR AIDNER: O compromisso que tenho é o de levar o conhecimento e o orgulho nordestino em cada música, verso ou história, é o compromisso de contar o que os vencedores não contaram sobre Canudos, sobre o Cangaço e sobre tudo o que o povo merece saber. Na minha poesia me mostro, me exponho e este é meu compromisso com os meus leitores e meu público.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?LUAR AIDNER: Gosto do Romance e da Poesia, ainda mais do que dos outros gêneros, mas a música está em tudo o que faço, sou um ser musical e minha vida tem trilha sonora... Vez por outra composta por mim mesmo.VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem a inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?LUAR AIDNER: Meus textos nascem de forma espontânea, eu apenas transcrevo. Acredito na inspiração como algo externo que é captado, e assim como tantos poetas e escritores, me valho da natureza como forma de alterar a percepção, sou adepto dos Enteógenos.
VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?LUAR AIDNER: Uma obra predileta é difícil dentre todos os gêneros que trabalho, mas gosto muito de um poema meu no qual digo “Ando achando que sou tal qual uma ilha, uma extensão de mim rodeada de ti por todos os lados...” É um poema em que falo da relação una de dois seres humanos que se amam, independentemente do sexo.
VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?LUAR AIDNER: Depende do gênero, costumo demorar mais produzindo romances, neste caso eu reescrevo algumas vezes antes de dar por finalizado, já no caso de Biografias, depende do tempo de pesquisa, mas no geral produzo minhas obras com rapidez.
VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?LUAR AIDNER: Sem sombra de dúvidas é um romance intitulado “O Sertão Mundo, Psicodelia Cabocla”, obra que ainda está em fase de conclusão. Penso que a demora se dá pelo fato de que, em se tratando de uma homenagem a escola literária do Mestre Ariano Suassuna, cabe muito estudo, critério e paciência.VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?LUAR AIDNER: Não concluí a faculdade, posto que meu filho havia nascido e eu queria acompanhar todo o processo; assim, como a universidade ficava em outra cidade, optei por ficar em Salvador. Mas tenho seguido carreira na literatura, assim como na música e em diversas áreas de Cultura Popular. Os próximos passos acadêmicos serão lograr o diploma de Jornalismo.VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?LUAR AIDNER: Ariano Suassuna em primeiríssimo lugar. Máximo respeito a Guimarães Rosa, Alvim Martim Horcades, Patativa do Assaré e tantos outros.
VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?LUAR AIDNER: Tesão. Desejo, Amor ao que está se propondo.VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?LUAR AIDNER: Uso o meu nome seguido do Pseudônimo, Luar do Conselheiro é uma alcunha que me remete à cidade de Uauá, no Alto Sertão de Canudos, cidade que culturalmente me acolheu e me adotou.VALDECK: Como foi a tua infância?LUAR AIDNER: Cresci dentro do cotidiano e cenário da Praia dos Artistas, na Boca do Rio, bem como na Colônia de Pescadores da comunidade. E ao visitar o Sertão Baiano me encantei por esta realidade tão diferente da que eu estava acostumado, mas que acabou por formar dentro de meu íntimo o homem que eu seria mais a frente.VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?LUAR AIDNER: Não vejo uma coisa separada da outra, não vejo arte sem prazer, e prazer sem arte.VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?LUAR AIDNER: Um duo poético entre eu e a poetisa Malu Freitas, encarnando poeticamente Castro Alves e Eugênia Infante, poema chamado “Missivas Eternas”, publicado na revista ArtePoesia.VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?LUAR AIDNER: Sou Poeta, Escritor, Compositor, Cantador, Romancista, Cordelista, Autor e Roteirista, mas sou um Auto-Experimento, brinco também com as artes plásticas, as artes cênicas, áudio-visual... Sou um não ao avesso quando se trata de Arte.VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?LUAR AIDNER: Amor, independência e libertação de muitos “Ismos” que vemos por aí a tantos aeons de tempo.VALDECK: Qual sua Religião?
LUAR AIDNER: Não tenho, tenho uma forte tendência ao politeísmo e me re-encontro com minhas divindades através dos xamãs e das religiões de matriz africana. Sou, acima de tudo, um psiconauta.
VALDECK: Quais seus planos como escritor?LUAR AIDNER: Apenas desejo que meus versos sejam ouvidos, que meus romances sejam degustados, minha música assimilada e que os meus caminhos sejam sempre prenhes de Arte.
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 14/03/2012
Alterado em 14/03/2012