Escritor Baiano Lança Cinco Livros na Bienal de São Paulo e distribui exemplares de "Memorial do Inferno", que tem contracapa escrita por Lázaro Ramos
O principal livro, “3ª Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus” é o resultado de um sonho antigo de realizar um concurso de poesias. A terceira edição reúne 182 poetas do Brasil, de Moçambique e Portugal. Para a maioria dos escritores esta é uma estréia em grande estilo, pois seu lançamento, durante a 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, é uma oportunidade ímpar. O lançamento será no estande da Giz Editorial, dia 24/08, 15 horas.
EC - Quem é Valdeck Almeida de Jesus?
Valdeck é um poeta nato. Rabisca poemas desde os 12 anos de idade, quando teve seu primeiro contato com poesias. Filho de pais pobres, morador de periferia, passou muita dificuldade na vida, mas, ao contrário das apostas, trilhou o caminho do bem, estudou e venceu na vida.
EC - Então foi aos 12 anos que você descobriu que tinha a sensibilidade
de criar poesias?
Valdeck Almeida-Sim. Até então eu não sabia nem conhecia outra forma de escrita que não a formal, o bê-a-bá a que a escola ‘particular’ me ensinou. Eu nasci em Jequié, interior da Bahia, e estudei em escolas cujas professoras, leigas, ainda batiam com palmatória e colocavam os alunos de castigo ajoelhados com a cara colada à parede.
Após uma viagem do meu pai a São Paulo, para cuidar da saúde, minha mãe ficou importante. Após uma viagem do meu pai a São Paulo, para cuidar da saúde, minha mãe ficou impossibilitada de cuidar sozinha dos filhos. Fomos convidados, então, a morar numa fazenda, distante uns 20 km da cidade. Ali fiz o primário e retornei a Jequié, sozinho, para continuar os estudos. Morei na casa de uma antiga conhecida de minha mãe.
Ela me dava uns trocados para a merenda, que eu guardava para comprar lápis, cadernos etc. Um vendedor de livros passou na minha sala de aula e o dinheiro que eu tinha só dava para comprar três livretos de poesia. Este foi meu primeiro contato com esta linguagem. Encantei-me e comecei a imitar os versos. Foi aí que ‘virei’ poeta. Risos.
EC - Esses livretos eram cordéis, hoje você é um poeta de cordel?
Valdeck Almeida-Era uma mini coleção de três livretos de poesia. Tive contato com cordel algum tempo mais tarde. Encantei-me muito pelas histórias contadas na literatura de cordel. Em Jequié era comum os cantadores fazerem apresentações de seus livretos em praça pública. Sofri influência do cordel também.
Tenho muita poesia em tom de cordel, e o meu primeiro livro publicado “Feitiço Contra o Feiticeiro”, tem um cordel que dá nome ao livro e conta uma história fantástica. Minhas poesias, no começo de carreira, eram muito comportadas, falavam de amor e de rosas, de alegria, de um mundo encantado. Depois que conheci os textos de Augustos dos Anjos, minha criação mudou de rumo. Hoje escrevo crítica social, denúncias, uso linguagem não convencional e até chocante!
EC - “Feitiço contra o Feiticeiro”.
Nesse seu primeiro livro de cordel tem uma história real e que virou ficção, me fale sobre a poesia?
Valdeck Almeida-A história é irreal. Conto a aventura de um casal que gostaria de ficar rico sem trabalhar. É a velha máxima do capitalismo, tão arraigada em nossas almas, que acabamos reproduzindo, inconscientemente. A ‘balela’ do castigo para quem rouba, para quem burla o sistema. Este casal faz um acordo com o Satanás, em troca de riqueza, tenta enganar o capeta, mas este descobre a tramóia e castiga o casal.
EC - "No Brasil já temos milhares de sonhadores escrevendo livros de poesias".
Você tem um projeto de antologia que é intitulado "Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus" Esse projeto já esta em quantas edições e esse ano tem data de lançamento e onde será?
Valdeck Almeida-Sonhar é preciso. Viver, também é preciso. A vida alimenta o sonho, e o sonho alimenta a vida. É um processo natural.
O projeto de antologia nasceu há quatro anos. No início foi pequeno, como todo sonho, mas foi crescendo, sendo compartilhado com outros sonhadores. Este ano o livro está com 182 poetas-sonhadores.
Será lançado dia 24 de agosto, domingo, às 15 horas, no estande da Giz Editorial, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Espero que seja um sucesso, pois é o sonho de muitos brasileiros, portugueses, angolanos e moçambicanos que está em jogo. A maioria dos escritores deste livro é estreante. É uma responsabilidade muito grande para mim, ser o cicerone de tanta gente.
EC - O amigo sempre costuma doar boa parte da renda dos seus livros a alguma instituição da Bahia, qual o nome da instituição e se a Antologia esta incluída também?
Valdeck Almeida-Esta antologia saiu meio nas pressas. Estou fazendo faculdade à noite e trabalhando durante o dia. A partir de uma segunda edição reservarei um percentual para uma instituição social.
Mas estou fazendo, também durante a Bienal de São Paulo, mais outros lançamentos, em conjunto com outros autores e editoras. Farei uma tarde de autógrafos de “Memorial do Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, cuja edição tem 20% da renda reservada às Obras Sociais Irmã Dulce.
EC - O que significa pra você um livro poético?
Valdeck Almeida-Poesia pra mim é uma válvula de escape. Através da poesia, dou recados ao mundo, daquele tipo que a gente não teria coragem de gritar da janela de casa. É uma terapia. Poesia é o tempero de minha vida. E o livro que produzo e patrocino há quatro anos, divulgando poetas de todos os confins, é a certeza de que não sonho sozinho. De alguma forma, estou de mãos dadas com poetas, escritores, leitores, que se irmanam na missão de tornar o mundo mais humano.
EC - Você e o ator Global Lázaro Ramos estão com um projeto de incentivo
a leitura na Bahia, esse projeto tem apoio de quem e como esta sendo
elaborado?
Valdeck Almeida-Na verdade o Lázaro Ramos sempre esteve comprometido com causas sociais. Quando publiquei “Memorial do Inferno” pela primeira vez, em 2005, ele abraçou o projeto, escreveu a contracapa e deu a maior força na divulgação.
O projeto que ele está apoiando aqui na Bahia partiu de uma idéia dele próprio de incentivo à leitura, que a Universidade Federal da Bahia colocou em prática. O projeto é dele, eu não participo. Não é, no entanto. O projeto que está em prática na UFBA foi idéia do Lázaro.
EC - E quais as áreas serão beneficiadas com o projeto de "Incentivo a Leitura"?
Valdeck Almeida-O projeto de Lázaro Ramos que a Ufba tomou como exemplo e colocará em prática é levar a leitura às comunidades carentes da periferia de Salvador e Região Metropolitana. São áreas em que há poucas bibliotecas, bairros muitos distantes do centro da cidade e de difícil acesso. Mas eu não sou a pessoa ideal para falar desse projeto. Acredito que o próprio Lázaro e a Ufba poderiam esclarecer bem mais que eu.
EC - Você falou que escreve hoje crítica social. São crônicas?
Valdeck Almeida-Sim, escrevo muitas crônicas, que publico em sites pelo país a fora. Muitas ficam na gaveta. Mas não parei de escrever poesias, com cunho social, crítico, muito opinativo, em tom de panfleto. Sou muito indignado com muita coisa que acontece em nosso Brasil e não posso calar-me diante das injustiças sociais.
EC - E qual uma das injustiças que você acha que deveria ter mudanças e como teria que começar? Por exemplo, é a homofobia.
Valdeck Almeida-O Brasil é muito injusto com os brasileiros. Sempre foi assim. Os nativos nunca têm os direitos respeitados, enquanto que estrangeiros são mais bem tratados. Em relação à homofobia, teria que começar pela aprovação da lei que criminaliza este tipo de preconceito e discriminação.
Muita gente é agredida, assediada, despedida dos empregos, brutalmente assassinadas somente pelo fato de ser homossexual. Os criminosos quase nunca são presos e condenados, e nas raras vezes em que vão para a prisão conseguem fugir.
É preciso dar um basta na impunidade, é preciso que o país faça uma reforma tributária e que distribua melhor a renda nacional, é preciso colocar na cadeia ricos e pobres, com o mesmo tratamento. Sem regalias. É injusto que um ladrão de galinhas apodreça atrás das grades, enquanto que ladrões do dinheiro público debocham da lei.
EC - Tem algum livro em que você escreve sobre o tema homofobia e das injustiças sociais?
Valdeck Almeida-Lancei em 2004 um livro nos Estados Unidos, chamado “Heartache Poems. A Brazilian Gay Man Coming Out from the Closet” (Poemas de sofrimento: Um gay brasileiro saindo do armário).
Ainda não há uma versão em português, que pretendo lançar em breve. Neste livro eu faço um panorama de minha vida, que foi recheada de injustiças sociais. A homofobia não fica clara neste livro de poemas, pois na época eu era enrustido, não declarava minha sexualidade, por medo de represália da família e de amigos. Tenho um livro de crônicas pronto para editar. Acredito que no início de 2009 ele esteja nas livrarias.
EC - Como membro da União Brasileira de Escritores, o amigo tem outras participações no Brasil e Internacional e quais são?
Valdeck Almeida-Participo de recitais e de saraus, sempre que tenho tempo. Aqui em Salvador há muitos grupos de poetas. Por exemplo, o Art Poesia, que fez 9 anos em 2008, cujo editor é meu amigo Alberto Barreto.
Sempre publico poemas na revista que o movimento edita. O grupo se apresenta no SESC da Rua Chile e sempre que posso estou lá.
Participo, no exterior, da Federação dos Poetas Canadenses e do Movimento Poetas Del Mundo.
EC - Sua sensibilidade como poeta rendeu alguns prêmios?
Valdeck Almeida-Sim. Fui classificado em várias antologias e já participo de mais de 20 livros. Recentemente um conto meu foi classificado e publicado pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), de Ilhéus/Ba. Tenho algumas menções honrosas em outros concursos. Mas meu objetivo não é conquistar prêmios literários.
Claro que os prêmios dão visibilidade ao escritor, mas nem sempre premia a quem realmente escreve bem, pois a maioria dos escritores nem tem acesso aos regulamentos de concursos, que parecem mais labirintos.
Meu maior prazer é ter um livro meu comentado por um leitor, por um amigo, por um blogueiro ou por alguém que eu nunca conheci pessoalmente. Já me surpreendi com poesias minhas publicadas em perfis no orkut de desconhecidos. Isso me dá um prazer enorme.
Para finalizarmos a entrevista e agradecer a sua disponibilidade Embora nos apetecesse conversar muito mais e agradecendo o precioso tempo dispensado, foi uma honra e um prazer especial partilhar a telinha do MSN que o amigo me concedeu.
EC – Para finalizar como se define Valdeck Almeida?
Valdeck Almeida-Eu sou um batalhador incansável. Sou uma pessoa que persegue o próprio destino, que constrói cada pedaço de chão onde pisa.