Logo que venceu a quinta edição do Big Brother Brasil, Jean Wyllys se empenhou em fazer tudo o que um ex-BBB não faria. Vinha dando certo até agora, quando decidiu se candidatar a deputado federal e se deparou com uma eleição que terá famosos como Kleber Bambam e as funkeiras Mulher Mamão e Tati Quebra Barraco.
Jean, porém, garante que vai se diferenciar e promete não incluir sequer "um panfleto sobre Big Brother" em sua campanha.
– Eu já esperava que me colocassem no mesmo balaio, mas as pessoas sabem que eu sou diferente. Eu não sou um oportunista que está saindo do seu conforto de celebridade para me engajar numa campanha.
Entrar para o mundo das celebridades instantâneas parece não combinar com o perfil de Jean, professor de três universidades cariocas, jornalista e autor de três livros. Ele, porém, diz que sua motivação foi puramente acadêmica.
– Eu estava interessado em estudar reality show. Se eu fosse fazer um pedido formal de etnografia, a Globo jamais me deixaria entrar. Então eu me inscrevi.
O estudo vai virar a tese de doutorado do baiano, que ainda não tem prazo para ser concluída. Mas ele adianta: vai defender o programa do qual fez parte.
– Adoro o programa, estudo o programa e acho interessante. Não faço coro à "intelinquência" que é contra o programa. Acho que os meios de massa podem ter usos produtivos.
Leia a entrevista:
Terra Magazine – Essa candidatura para deputado federal foi algo que você já tinha pensado antes ou surgiu agora?
Jean Wyllys – Em 2007, quando a lei sobre a criminalização da homofobia estava sendo votada, a comunidade LGBT me convidou para apresentar uma comunicação para os senadores e para os deputados. Uma comunicação a favor da lei. Quando terminou, os senadores do bloco da esquerda – do PT, PD do B, PCB e PSOL – me chamaram para conversar. Foi aí que eu comecei a pensar "poxa, acho que deve estar na hora mesmo de eu me filiar a um partido".
Você já se envolveu com política alguma vez?
Você tem tempo pra ouvir? Vou te contar um pouquinho de mim para que a coisa tenha uma coerência. Talvez você não conheça muito da minha história. Na periferia da minha cidade (Alagoinhas, BA), havia muita presença das comunidades eclesiais de base da Igreja Católica. E foi onde a minha formação política começou. Foi quando eu comecei engajado em movimentos sociais, ligado a esquerda Católica. Mais tarde, em Salvador, sempre tive um engajamento político como escritor, como jornalista e como cidadão. Me tornei professor universitário, continuei esse trabalho até que veio o Big Brother na minha vida.
E por que você foi parar no Big Brother?
Eu me inscrevi no Big Brother porque eu tinha o interesse de investigar. Eu tinha estudado no mestrado narrativas de presidiários e eu deveria dar continuidade a essa pesquisa no doutorado, só que eu não estava mais interessado. Eu estava interessado em estudar reality show. Eu desejava fazer uma etnografia. Se eu fosse fazer um pedido formal de etnografia, a Globo jamais deixaria eu entrar, então eu me inscrevi. Assim, no escuro, pra saber se eu iria ser selecionado ou não. E eu fui selecionado para minha grande surpresa. Eu pensei "e agora, vou ou não vou?". Mas eu me conheço, eu pensei "eu posso dar uma dignidade àquele programa que ele normalmente não tinha". Eu ganhei o programa. Saí de lá e continuei fazendo o que eu sempre fiz. Trabalhando exatamente nas mesmas coisas que eu sempre trabalhei. Me recusei a cair nesse lugar comum que os ex-BBBs caem.
E por que o PSOL?
Eu já tinha recebido um convite de ACM Neto, quando ele saiu candidato a prefeito de Salvador. O gabinete dele me ligou para sair candidato a vereador e eu disse que não porque não tenho qualquer identificação com o Partido Democratas. Depois desse convite eu entendi que a vida estava me dando sinais e que era hora de eu me filiar a um partido. E dos partidos disponíveis aquele que eu me identifico mais – por lutar por educação de qualidade, justiça social e, principalmente, liberdade individual – é o PSOL.
Você assumiu sua homossexualidade publicamente no Big Brother. Se eleito, você pretende lidar com as causas dos homossexuais?
Minha causa é bem maior que isso. Eu defendo sempre a causa dos direitos humanos. A minha bandeira é a luta pela educação de qualidade, saúde para o povo e justiça social pelos direitos humanos. A causa LGBT entra numa causa maior que é a defesa dos direitos humanos e das liberdades individuais. Nesse sentido, a minha causa é muito colorida, para usar uma palavra da moda. É colorida porque está ligada a várias frentes de defesa da dignidade humana.
Você falou que entrou no Big Brother para fazer um estudo. Esse estudo saiu?
Não, eu estou terminando. Doutorado não se conclui assim não. Está acontecendo, eu estudo na UFF, a Federal Fluminense. Eu vou ter que parar agora, porque, por causa da campanha, eu vou ter que parar de dar aula. Eu dou aula em três universidades e vou ter que parar. Eu não tenho a conclusão do estudo, mas posso te dar resultados parciais.
Ficamos curiosos. Como entrar no Big Brother te ajudou?
É um estudo sobre consumo, mas o consumo de ideias no produto televisivo. Entrar no Big Brother foi importante porque me ajudou a entender a dimensão de fazer o programa. Há uma ideia geral de que o BBB emburrece, mas esse não é o meu ponto de vista. Eu quero mostrar que o programa em muitas vezes foi politizado. Em muitos momentos ele tratou de questões relevantes, como a questão da mulher, a questão racial.
E você se incomoda de ser tratado como um ex-BBB? De a sua candidatura ser anunciada junto com a de outras celebridades?
Não me incomoda. A imprensa não separa joio do trigo. Eu já esperava que me colocassem no mesmo balaio. Mas as pessoas sabem que eu sou diferente.
Mas você não acha que o fato de você ter estado na televisão vai influenciar os seus votos?
Não sei. Não sei porque já faz cinco anos que eu fiz o programa, são cinco anos distante. É uma acusação quase leviana e irresponsável da imprensa dizer isso. Eu fiz o programa em 2005. De 2005 pra cá eu estou fora. Eu faço questão de estar fora da mídia, eu não faço programa de auditório, por exemplo. Ninguém pode me acusar nesse sentido. De lá pra cá, eu me engajo em lutas reais. Eu não sou um oportunista que está saindo do seu conforto de celebridade para me engajar numa campanha.
Então você não pretende explorar esse lado na sua campanha?
Do Big Brother? Não, de jeito nenhum! Não vou explorar esse lado. O Big Brother foi uma coisa bacana na minha vida, importantíssima, que eu adoro e se eu pudesse voltar faria tudo de novo. Adoro o programa, estudo o programa, acho interessante. Não faço coro a "intelinquência" que é contra o programa. Acho que os meios de massa podem ter usos produtivos. A telenovela tá aí hoje para provar que ela é um fórum fundamental de discussão e geradora de identidade nacional. Tá aí para provar, para desmentir tudo o que foi dito dela nos anos 70. Não faço coro, eu adoro o Big Brother, mas o Big Brother aconteceu na minha vida em 2005. Pronto. De lá pra cá a minha história continua. Eu, você, seu Zé das Couves, temos a obrigação de nos reinventar todo dia. Então não vou explorar isso na minha campanha. Você não vai ver um panfleto em que isso vai estar em jogo.
Muito obrigada, Jean. Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar?
Eu falei até demais, mas é que eu preciso explicar tim-tim por tim-tim pra não gerar equívoco. Em tempos de internet e em tempos de telefone sem fio, cabe ao jornalista responsável saber dar a notícia. Eu sou didático pra não ter qualquer tipo de distorção.
Fonte: Terra