Desapegar é morrer aos poucos
Talvez seja o mais dolorido dos exercícios, porque rasga e sangra a alma. Passamos a vida nos acostumando com o nascer e o pôr do sol, os dias se repetindo e as emoções se amalgamando umas sobre as outras. A cada novo encontro, uma nova conexão e um outro apego se plasma.
À medida que a vida avança, o tempo se encarrega de marcar nossa alma com tatuagens de emoções e lembranças. As más experiências nos acompanham, assim como os melhores momentos vividos. Ambos se aprofundam em nossa memória e nos preserva e adverte para escolher melhor os caminhos a seguir.
Esquecer ou tentar esquecer é, também, esquecer e tentar esquecer de si mesmo, querer mudar o passado, se uma outra pessoa. E como ser uma outra pessoa no mesmo corpo, com o mesmo cérebro, com as mesmas recordações? Parar de pensar, encher a mente com novas experiências e outras imagens, seguir caminhos incertos, buscar novos destinos ou morrer aos poucos, apagar os rastros da caminhada.
E quando acordar desta jornada, não se reconhecer mais no espelho, perder os laços afetivos que nos tornam humanos e descobrir que o desapego doeu mas te deixou, também, um pouco insensível e um tanto perdido.
Cartagena, 17 de agosto de 2013
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 15/06/2010
Alterado em 03/09/2013