Valdeck Almeida de Jesus
O poeta da verdade!
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Batendo perna em Caracas

16 de dezembro de 2013

Café da Manhã, lá vou eu. Hoje me empanturrei, apesar de não conseguir comer muito pela manhã, herança dos longos anos de fome. O apetite só chega à tarde. Mas como resolvi não acessar a internet logo cedo, para aproveitar e dar uma passeada pelo Centro, comi bastante. Depois, direto para o ponto do ônibus da Avenida Solano Lopez. Pedi informações e peguei o ônibus que passa no Capitólio, região bem central. Uns vinte a trinta minutos num buzão terrível. A porta aberta o tempo todo, passageiros dão a mão em qualquer lugar e o motorista para. Ele mesmo dirige e cobra ao mesmo tempo. Os ônibus daqui parecem ter saído de um filme de trinta anos atrás. São velhos, lentos, mal cuidados, só tem uma porta, roncam alto. Preço da corrida, seis bolívares, não há controle de quem entra ou sai. O dinheiro, para meu espanto, fica numa caixa de madeira em cima do capô, à disposição do motorista e de quem o deseje roubar. Lembrei da taxista e do comentário sobre mostrar grana em público... Aprendi o roteiro que devo pegar: ida ao Centro, Alta Vista/Avenida Urdanista; de volta ao hotel, Chacaito/La Campiña. Gravando paisagens de ida e volta. Acho que o hotel está no município de Chacao, mas é tão colado com Caracas, que não sei se estou certo ou errado.

 

Saltei na Avenida Norte 2, no centro da cidade. Fiquei de olho, para não cometer nenhuma gafe de mostrar dinheiro em público. O resto, dá para contornar. Como tenho cara de latino, me passo por local em qualquer lugar, é só não abrir a boca para falar. Mesmo assim, em alguns lugares, não me reconheceram como turista, pois eu falo o mínimo e tento imitar o sotaque local. Vi muito lixo acumulado e moto taxi pra bater de pau (como se diz em Jequié-BA). Os cascos, como são chamados os capacetes, são metade de um capacete normal, não seriam aprovados no Brasil, de forma alguma. O que os motoqueiros gostam muito de fazer é buzinar. E os motoristas também. Parece que a buzina é um artigo para ser usado a torto e a direito. Os pedestres atravessam na frente dos carros, muitos param e dão passagem. Mas eu quase presenciei um atropelo em plena faixa de pedestre com sinal fechado para os carros. Meu Deus, por questão de segundos não aconteceu uma tragédia.

 

Entrei em algumas igrejas e também na Iglesia Santa Capilla. Andei por algumas praças, como a Plaza Bolívar (também chamada de Plaza Mayor ou Plaza de Armas). Entrei na estação do metrô e achei bem parecida com as de São Paulo, bem organizada e sinalizada. Entrei também num prédio denominado “Gobierno del Distrito Capital”, onde tinha uma exposição de fotos de Hugo Chavez e um presépio armado. Fiquei muito emocionado com as mensagens do povo ao grande líder, realmente amado pela população, dá para perceber no carinho que demonstram nas fotos. Escrevi uma frase num painel. Ao lado deste prédio estava acontecendo uma festa natalina, com música e muita comida, café, chocolate, suco etc, até tomei um copo de café, delicioso. Uma festa linda, fiquei vários minutos assistindo à cantoria e até acompanhei cantando também.

 

Fui a uma lan house e naveguei por quinze minutos e paguei cinquenta bolívares. Internet super rápida. Não há fiação elétrica pela cidade, é tudo subterrâneo, no melhor estilo europeu.

 

Vi policiamento ostensivo por todo lado: Polícia Municipal, Polícia del Pueblo (armas pesadas tipo metralhadora) e Guarda Nacional Bolivariana. Se for assim todo dia, o lugar é seguro. Mesmo assim me assustei com dois rapazes que ficaram olhando minha câmara fotográfica e pararam logo adiante. Nem tentei perceber se estavam de olho em mim ou se estavam mirando a praça. Dei no pé, circulei por várias ruas, me certificando de não estar sendo seguido. Melhor prevenir do que remediar. Lembrei da taxista de novo.

 

Nessa caminhada toda, achei um sanitário público, onde entrei pra usar. Bem sujinho, com alguns bagulhos jogados pelos cantos...

 

Um detalhe: as favelas, nos topos dos morros, são vistas do Centro, como se estivessem dentro do centro... ou o centro estivesse dentro das favelas... não sei direito a diferença.

 

Retornei ao hotel, de buzão. Sem problema. Saltei na Avenida Solano, segui em frente, dobrei à direita, orientado por dois venezuelanos aos quais perguntei a direção da Segunda Avenida de Las Delícias. Pronto, no hotel outra vez. Risos. Na prisão outra vez. Mas agora, sabendo para onde ir e por onde ir. Depois de ficar umas quatro horas na internet, teclando com amigos brasileiros e venezuelanos pelo Facebook, resolvi sair para comer. Olhei do apartamento e a pizzaria estava fechada, graças a Deus. Fui na direção da Avenida Solano, encontrei um barzinho que eu já tinha visto antes, mas não tinha Arepe, prato típico daqui, recomendado por um amigo. Segui mais um pouco, vi um supermercado. Em último caso, eu compraria umas coisas. Vi, também, uma banquinha de frutas e reconheci, de longe, bananas... Eram pistas para saídas pela tangente. Não precisei apelar, no entanto. Num barzinho na esquina da segunda rua, comi feito uma égua, como se diz em Jequié-BA. Não me lembro o nome do prato, mas era uma delícia: abacate, filetes de carne de boi, nacos de franco, tudo mal passado, com um molho de pimentões, cebola, alface e batata frita gratinada... Acompanha, pães com dois tipos de molho de pimenta que nunca comi igual. Acompanhei com três garrafas de Polar, cerveja genuinamente venezuelana. Ueba, finalmente enchi a pança e fiquei feliz. Dei dez bolívares de gorjeta ao garçom, mesmo sem obrigação. Nem reclamei que o bar não recebia American Express Card... Nem tudo está perdido no mundo. Ao longo do refestelamento de comida, clipes de venezuelanos arrasando com meus sentimentos. Fazer o que, se tenho sangue latino...

 

Descobri, nessa caminhada de hoje, que as pessoas mais linda não estão na internet; estão na rua, caminhando, como se fossem gente comum...

 

Numa mesa próxima, uma rachada falando igual a uma matraca na época da Páscoa. Toda mulher fala pelos cotovelos, não importa a língua. Eu vi uma tagarelando no hotel, enquanto o marido ou sei lá o que, só olhava. Esta do bar parecia enlouquecida, a boca não parava um segundo. Ao lado, uma bichona disfarçada, com a boca nervorsita, só enchia o rabo de galinha frita com molho e cerveja Polar, pra variar. Risos. Ces’t l avie, ou, A felicidade não custa caro: só 140 bolívares.

 

“Não sou mais um favelado/ Tenho medo da polícia/ E também do esfomeado/ Sou um burguês descarado”...

 

Minha comida merecia uma foto. Ai meu Deus, meus sais... “Não quero/ Nem saber/ Como esse boi morreu/ nem pra onde foi/ a alma desse infeliz se foi/ porque a vida tem que ser/ sorvida, servida, aos poucos”...

 

A pica do ar condicionado agora que me matar... vou desligar essa porra...

Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 11/08/2010
Alterado em 25/12/2013
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