Não encontrei no dicionário a tradução exata do que eu estou sentindo neste momento. Até li algumas poesias, tentei nos livros clássicos, nos rabiscos de uma criança, mas assim mesmo fiquei em dúvida se aqueles significados se aplicariam à minha experiência concreta.

Eu buscava alguém e encontrei. Mas busca e encontro não significam a mesma coisa para todo mundo. Na primeira vez que estive com a pessoa, eu ouvi dela “você é quem eu procurava”. Eu não estava muito certo se aquilo era igual pra mim. Mas deixei acontecer. Afinal, nem tudo está pronto e acabado.

O tempo, senhor de tudo, tratou de me mostrar que o amor estava ao meu redor. De olhos grandes, pele morena, cheio de medos e sonhos, carente de carinho e apoio, frágil como a vida. Eu, que me sentia forte, inabalável, calejado pelos tantos desenganos e desacertos, tentei me proteger com o manto da sensatez.

Mas sensatez não rima com amor. E o contrário, insesatez, não é uma atitude negativa quando se trata de romance, de paixão. Comedido, como sempre fui, me deixei levar e fui levando os sentimentos meus e da pessoa amada, buscando, cuidadosamente, pisar em terreno firme antes de investir mais alto.

Não me dei conta da velocidade e mergulhei no amor, certo daquilo que eu sentia e convicto de que a pessoa amada transparecia. Não havia motivos para insegurança, recuo. Mas a insegurança é minha companheira de sempre. Medroso de sofrer revezes, mais uma vez esta característica foi parceira de minhas atitudes. De homem seguro, forte, me tornei criança carente, dependente.

O amor me prendeu e eu não me senti prisioneiro. Ao contrário, o sentimento de pertencer a alguém me libertou, me deu forças para enfrentar minhas outras necessidades. Pois, ao contrário do que se prega atualmente, o pertencimento é que torna o ser, realmente, humano. A sensação de não estar sozinho no universo é que eterniza a existência e suporta a angústia da incerteza do amanhã.

As buscas da vida moderna, ao contrário, aprisionam muito mais o corpo e a alma do que o amor. A escravidão a que é submetida a pessoa humana empobrece o amanhã, pois torna cada dia em uma cifra ou um objeto a ser adquirido. E por mais que se acumule riquezas, aquele vazio interior, que só o amor preenche, aumenta e sufoca cada vez mais. E sem amor, a humanidade se perde, se destroi.

O exemplo está aí: famílias desestruturadas, relacionamentos frágeis, o capital falando mais alto que qualquer sentimento de solidariedade, e o ser humano se tornando em uma coisa só: lixo. E lixo, definitivamente, não quero ser. Ainda há tempo de me humanizar, de me deixar invadir pelo sentimento maior que move o mundo: o amor. Ainda há espaço em minha vida para recomeçar. Recomeçar, todo dia, com a mesma pessoa, acreditando que um relacionamento nunca está pronto. A construção é diária, eterna. Aí encontrei o significado do amor: dar sem pedir recompensa; se entregar, sem medo e sem querer algo em troca.

Salvador, 19 de março de 2011
06:10hs