Casa dos Artistas – Amores e Sonhos de um Poeta
A busca pela felicidade é uma constante na vida de Allan dos Santos. Ele teve família grande, pai, mãe, vizinhos, colegas de escola, muitos irmãos e primos que se perde a conta. Mudanças na vida profissional e a busca por algo mais fizeram com que ele fosse morar na capital da Bahia, longe dos entes queridos. Entre familiares e conhecidos, no interior do Estado, ele era feliz e não sabia.
Os primeiros anos foram terríveis, a solidão lhe batia à porta a cada momento e o retorno para sua cidade natal, todo final de semana, trazia um sorriso largo de volta ao rosto. Apesar do cansaço da viagem de mais de 400 quilômetros, era um sacrifício que valia a pena. Allan voltava renovado, com energias para gastar à vontade. Na capital, quando a tristeza ameaçava lhe incomodar, ele corria para a rua, andava pelas praças, ligava para novos amigos e caía na farra. Era a forma encontrada para camuflar a necessidade de afeto, de proximidade com quem gostava dele.
O tempo, que cura todos os males, nesse caso, piorou ainda mais a situação. A distância e a solidão iam se abatendo sobre Allan de uma forma tão cruel que ele se jogou nos braços de vários amores, em busca do conforto do colo da mãe, do abraço despretensioso dos irmãos, da conversa jogada fora com amigos de infância nas longas conversar à beira do rio... Amores vinham ou iam, dores ficavam ou sumiam, mas a consciência de Allan não despertava para o que lhe afligia de verdade: a solidão.
Para preencher a solidão, as revistas eróticas às vezes lhe serviam de consolo. Em outras ocasiões, conhecer gente nova nas festinhas de largo ou nos clubes da cidade era suficiente. Após breves apresentações pessoais, encontros eram marcados. Risos, abraços, cerveja à beira mar, cinema, enfim. A ilusão da companhia de quase estranhos confortavam e davam alento à sua vida. As viagens ao interior iam rareando por vários motivos. Um dia era uma festa, noutro era um encontro especial com mais um novo amigo, o cansaço do trabalho, a distância a percorrer em ônibus, o preço das passagens, e, assim, os laços foram se desfazendo e a distância emocional aumentando o fosso entre Allan e aqueles que lhe queriam bem.
Querer bem pode ser motivo para buscar um amor. A falta da família certamente poderia ser preenchida por um novo namorado, era o que ele pensava. E lá vai Allan em busca de desculpas para ser feliz. O primeiro amor foi encontrado na casa de uma amiga. Após meses de felicidade, foi abandonado. A razão de sua vida fugiu com um europeu e foi viver um conto de fadas na Inglaterra. O segundo, também conhecido na casa de uma amiga, acabou lhe roubando mais que o coração: levou todos os bens de Allan e desapareceu para sempre. O terceiro, Allan conheceu através de um anúncio na porta de um sanitário público. Este, encantado pela vida fácil das revistas e filmes de turismo, foi preso por tráfico de drogas e se encontra cumprindo pena em uma prisão europeia. O quarto, encontrado numa reunião que debatia direitos e deveres dos gays, após meses de felicidade, traiu Allan com o melhor amigo, se tornou dançarino e foi fazer sucesso nos cabarés da Itália. Até hoje não se tem notícia. O quinto e último, por enquanto, foi descoberto num bate-papo sobre sexo, via telefone. Após se conhecerem, se amaram loucamente. Como os demais, este também se encantou pela vida fácil dos anúncios de revistas e se enveredou pelo tráfico de drogas, sexo compulsivo nas boates e saunas da cidade. Conheceu uma cafetina americana e foi fazer vida nos Estados Unidos.
Os momentos de alegria de Allan duraram pouco, mas foram intensos, viscerais. A busca pela felicidade sempre lhe trouxe vampiros de emoção, que lhe sugaram o ânimo e a alegria de viver. Allan às vezes fica a refletir sobre seus atos e acha que tem uma missão divina, qual seja a de proporcionar portais aos “simples mortais” para encontrarem o equilíbrio e a força espiritual. No entanto, pelos relatos, os pupilos queriam mais que paz de espírito: queriam sucesso na terra, com grana no bolso para esbanjar em modismos e diversões banais. Allan, poeta, bom fingidor, não consegue, ainda, se desvencilhar desse carma, valorizar mais a quem lhe ama de verdade, e viver a vida, independentemente de encontrar ou não um “verdadeiro amor”. Mas continua a caminhada, tentando acertar. O futuro a Deus pertence e o próximo amor está por vir. O resultado, quem saberá?