Capitães da Areia: o diário de brasileiros de carne e osso
As estórias contadas no livro emocionam, pois as personagens estão bem próximas da gente. São sentimentos humanos contraditórios, uma hora amando, na seguinte odiando; roubando e cometendo crimes, e no momento seguinte sendo ético...
Jorge Amado consegue amalgamar em personagens tão reais, um mundo de um turbilhão de passagens de vida, passagens comuns, mas de uma grandeza e de uma profundidade assombrosa.
A leitura de Capitães de Areia não deixa o leitor sossegado. Inquieta, mexe nas lágrimas, faz a gente se posicionar, contra ou a favor das personagens, mas não de uma forma simplista. O posicionamento é político, social, religioso, humano e desnudo de maniqueísmo.
A identificação com cada personagem, o sentimento de que eles estão ali tão do nosso lado, nos oprime o peito e nos faz comparar as vidas vividas no romance com as vidas de carne e osso que nos rodeiam, e nem sempre queremos ver ou nos emocionar. O livro nos acorda, nos dá aquele puxão de orelha e pergunta: o que você veio fazer no mundo, senão interagir e torná-lo mais humano e mais solidário?
A instigação nos acompanha no pós-leitura. Certamente nos tornamos pessoas melhores, mais sensíveis e mais abertas a olhar o outro, a sentir a dor do outro, a nos colocar na posição de quem não teve as mesmas oportunidades que nós e, antes de punir e denunciar, estendermos a mão e dar a este outro a chance de mostrar sua cara e sua alma; antes de condenar, ouvir; antes de punir, abraçar. Afinal, quem nunca cometeu um pecado que atire a primeira pedra.
Valdeck Almeida de Jesus
Poeta, Escritor, Jornalista