ROBERTO LEAL É ENTREVISTADO POR VALDECK ALMEIDA DE JESUS
Roberto Leal é jornalista (DRT/BA 3992), poeta, escritor, editor, ativista cultural e palestrante, nascido em Salvador a 29 de abril de 1962, nos Alagados, hoje bairro do Uruguai. Autor de “Cárcere de Poemas”, Ed. Òmnira/BA-2000 (esgotado), é colaborador em jornais como “A Tarde”, “Tribuna da Bahia” e “Jornal do Brasil”, revistas e periódicos no Brasil e exterior, é editor da revista de literatura Òmnira, organizador de dezenas de coletâneas e antologias em poesia e conto, tem mais de 600 trabalhos editados/publicados entre poesias, contos, crônicas e artigos, ao longo dos seus 28 anos de militância cultural. Em 1983 publicou seu primeiro poema no jornal “A Defesa”, de Santo Amaro da Purificação-BA. Publicou seu primeiro livro, uma coletânea com mais três autores “Perfume da Raça”, Ed. CEPA/BA-1986. Em 1995 começa sua trajetória jornalística, escrevendo a coluna “Notas de Sampa”, no “Jornal Grande Salvador Grande Bahia”, no qual escrevia as novidades culturais dos baianos em São Paulo, onde morava na época. Estreou como contista na coletânea “Bahia de Todos em Contos”, Ed. Òmnira/BA-2003 Vol. II. Recentemente publicou na coletânea poética “Salvador 460 Anos de Poesia”, Ed. Òmnira/BA-2009. É verbete no “Dicionário de Autores Baianos”, SCT/BA, 2006, pág. 106. Ex-diretor de Cultura e Relações Públicas do CEPA-Círculo de Estudo Pensamento e Ação, de 1983 a 1998; Personalidade Literária Brasileira – 2003, pela Poebrás/GO - Casa do Poeta Brasileiro. É vice-coordenador da UBE – União Brasileira de Escritores/Seção Bahia e membro da IWA – International Writers and Artist Association (USA), como também presidente da Fundação Òmnira Cultural & Comunitária, na qual coordena anualmente o Prêmio de Poesia e Conto, realizado pela entidade, e que vem revelando talentos, novos valores da nossa literatura a cada edição, agora tendo abrangência internacional em língua portuguesa. Tem trabalhos publicados em livros em Portugal, Estados Unidos e França. Produtor cultural na área literária com eventos realizados na Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Rio de Janeiro, Sergipe e São Paulo, Roberto Leal presta assessoria editorial a escritores, entidades e interessados em publicar seu livro.Roberto Leal já publicou também sob o pseudônimo de Beto Correia (1983 a 1990) em várias antologias e coletâneas, no início da sua carreira literária, quando publicou dois folhetos xerografados “Poemas com Fome e Segredos” (esgotados e possivelmente extintos). Concluiu recentemente Curso de Extensão em Comunicação Política na Universidade Federal da Bahia (UFBA). É curador do ENEBI-Encontro de Escritores Baianos Independentes, que acontece sempre em setembro, em Salvador.VALDECK: Quando e onde nasceu?ROBERTO LEAL: Nasci nos Alagados/o meu barraco não morreu/ele fica em cima do mar/foi lá para mim/que o mar nasceu. Alagados é uma localidade que hoje faz parte do bairro do Uruguai. Nasci sob o signo de Touro, no dia 29 de abril, em Salvador, a primeira capital do Brasil.VALDECK: Já conhece o restante do Brasil? E outros países?ROBERTO LEAL: Morei em Brasília por um ano, depois São Paulo por treze anos e Belo Horizonte por mais quatro. Tendo como ponto de partida a metrópole paulistana, conheço grande parte do país e, a passeio, conheço, ainda, o Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia.VALDECK: Como você começou a escrever? Por quê? Quando foi?ROBERTO LEAL: Acredito que antes de começar todo escritor se identifica primeiro com a leitura; gostava de ler gibis, fazer palavras cruzadas e ler tudo que achava de impresso pela frente. Descobri a poesia nos anos 80, quando comecei a publicar.VALDECK: Você escreve ficção ou sobre a realidade? Suas obras são mais poesia ou prosa? O que mais você gosta de escrever? Quais os temas?
ROBERTO LEAL: Às vezes a ficção se faz presente no meu trabalho, mas o mundo real é mais constante. Escrevo poesias, mas sou mais articulista, cronista, isso e o que mais gosto de publicar, meus artigos, minhas crônicas e minhas matérias, sempre versando sobre o momento atual, algo novo, assunto que traga retorno benéfico para a abordagem textual, que mereça a atenção do leitor.VALDECK: Qual o compromisso que você tem com o leitor, ou você não pensa em quem vai ler seus textos quando está escrevendo?ROBERTO LEAL: Sem o leitor seria impossível escrever, e é natural que se escreva pensando no público que vai consumir o seu texto e preocupar-se com o que as pessoas acharão do que estarão lendo naquela hora. Se você pretende que esse leitor volte, então escreva para que isso aconteça.
VALDECK: O que mais gosta de escrever?ROBERTO LEAL: Escrevo poesias, mas não me considero poeta. Gosto de escrever artigos e crônicas, desenvolver o meu potencial jornalístico que me acompanha há muitos anos de exercício. Mas não esquecendo que ate conto já escrevi.VALDECK: Como nascem seus textos? De onde vem à inspiração? E você escreve em qualquer hora, em qualquer lugar ou tem um ritual, um ambiente?ROBERTO LEAL: Escrevo no ônibus, na sala de espera, na fila do banco; escrevo em qualquer lugar, na parede do vizinho, na areia da praia, escrevo até em urnas eleitorais. Escrevo em papel higiênico, em guardanapos, escrevo em papel de saco de pão, escrevo também em rodapés de jornal, escrevo até quando estou dormindo e a mão desprende e alcança o piso do quarto, que em um grande caderno se transforma... Os textos fluem a cada olhar, a cada pensamento; a inspiração se tem na ponta da caneta e é retratada no papel, sempre, ou não se é escritor. O escritor tem o dever de estar sempre criando.VALDECK: Qual a obra predileta de sua autoria? Você lembra um trecho?
ROBERTO LEAL: Gosto muito do poema “Desigualdade”. Viva Maria pisa papelão/amassando lembranças/descalça fome caminha/com seu olhar criança. Sob viadutos eliminados/a sociedade desova/cidadãos aniquilados/caixotes feito cova.VALDECK: Seus textos são escritos com facilidade ou você demora muito produzindo, reescrevendo?ROBERTO LEAL: O trabalho está na criação ou então não seria um trabalho, não acredito em facilidade, dá a impressão de genialidade, o que às vezes não e o caso. Quem escreve reescreve pelo menos uma vez.VALDECK: Qual foi a obra que demorou mais tempo a escrever? Por quê?
ROBERTO LEAL: “C’alô”, 10 anos para terminar, nem sempre tinha tempo para voltar ao relato e voltar a reviver as lembranças.VALDECK: Concluiu a faculdade? Pretende seguir carreira na literatura?
ROBERTO LEAL: Em São Paulo, estudei Teologia na Fatecom, mas descobri a tempo que não tinha vocação. Depois estudei Filosofia e, também, não emplaquei; encontrei-me logo depois com a literatura e o jornalismo que, andando juntos, me consomem todo o meu tempo hoje, e fazem da minha carreira uma vitoriosa trajetória, graças ao bom Deus.VALDECK: Qual o escritor ou artista que mais admira e que tenha servido como fonte de inspiração ou motivação para seu trabalho?ROBERTO LEAL: Como motivação talvez, como inspiração, não! O poeta grego Konstantinos Oskavafis me mostrou o que é escrever poesia, e Castro Alves, de como ver a poesia intelectiva. Como também admiro não artistas, mas personalidades como: Nelson Mandela (África do Sul), Ray Kala Xanana Gusmão (Timor Leste) e Heloisa Helena (Brasil).VALDECK: O que você acha imprescindível para um autor escrever bem?
ROBERTO LEAL: Além da prática do ofício, escreve bem quem costuma ler também, aquele que tem tempo para fazer ambas as coisas.VALDECK: Você usa o nome verdadeiro nos textos, não gostaria de usar um pseudônimo?ROBERTO LEAL: Já usei pseudônimo e para mim não foi uma boa experiência; nos anos 80, quando comecei a publicar, usava o nome de Beto Correia (publiquei muito com esse pseudônimo), depois descobri que tinha um compositor na Bahia que usava o mesmo nome; passei a publicar como Roberto Leal Correia, mas vendo que visibilidade e publicidade se apresentam em junção, uma memorização rápida do nome de alguém facilita a identificação. Hoje publico como Roberto Leal e tenho certeza que morrerei Roberto Leal e publicando.VALDECK: Como foi a tua infância?ROBERTO LEAL: Um dos filhos de uma família de nove irmãos, seis homens e três mulheres, de um pai comerciante e mãe dona de casa. Perdi meu pai com 16 anos, com quem comecei a trabalhar aos 10 e fomos obrigados, na época, a partir cada um para um lado e sobreviver.VALDECK: Você é jovem, gasta mais tempo com diversão ou reserva um tempo para o trabalho artístico?ROBERTO LEAL: Divirto-me com aquilo que gosto, que faço e que procuro desempenhar bem, que e escrever e promover isso... Nas outras horas sou esportista e faço trabalho social na área esportiva na minha comunidade... O trabalho artístico-jornalístico-literário, aqui é profissional, e levado a sério, e ganha pão, e sustento de vida e manutenção da família.VALDECK: Tem um texto que te deu muito prazer ao ver publicado? Quando foi e onde?ROBERTO LEAL: Difícil revelar paixão por um texto dentre tantos que foram publicados. Vejo maior importância naqueles publicados na Folha de São Paulo, no Estado de Minas (Caderno Pensar), Folha da Tarde (BH), por serem textos de grande importância e que foram divulgados em outras praças. Textos de autores nordestinos publicados em jornais de grande circulação é como a quebra de um bloqueio.
VALDECK: Você tem outra atividade, além de escritor?ROBERTO LEAL: Já tive varias outras atividades... Hoje me dedico integralmente à literatura; profissionalmente, ao jornalismo; por amor, à politica (PSOL/BA); e, por necessidade, ao esporte.VALDECK: Você se preocupa em passar alguma mensagem através dos textos que cria? Qual?ROBERTO LEAL: Todo texto tem uma mensagem e quer dizer alguma coisa; de forma que incentivo à paz; o amor ao próximo; a derrubada da inveja e a extinção da falsidade; a solidariedade humana e a expansão cultural como forma de sobrevivência... Essas são minhas reais preocupações...VALDECK: Qual sua Religião?ROBERTOLEAL: Sou católico e casado com uma mulher cristã.VALDECK: Quais seus planos como escritor?ROBERTOLEAL: Lançar meu próximo livro “C’alô” (em março 2012); lançar a revista Òmnira nº 5, da qual sou editor, e continuar mantendo os projetos já executados anualmente, como também estrear o meu novo site de noticias www.pagina2.com.br – “Jornalismo Independente com credibilidade e transparência”.(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e editor, jornalista formado pela Faculdade da Cidade do Salvador. Autor do livro “Memorial do Inferno: A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, já traduzido para o inglês. Seus trabalhos são divulgados no site www.galinhapulando.com
Crédito da foto: Delci Silva
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 27/12/2011
Alterado em 27/12/2011