A vida começa aos quarenta ou minha ida à 22ª Bienal do Livro de São Paulo
O peso dos anos, o cansaço e o estresse da modernidade também começam aos quarenta ou piora a partir de então.
O tempo não para e, quando se chega a um patamar de conforto social, passamos a querer mais tempo para cultura, lazer e desfrutar da família. Influenciados pelas facilidades proporcionadas pela tecnologia, queremos fazer cada vez mais coisas em menos tempo.
Mesmo de carro, com passagem aérea comprada pela internet e conhecendo a cidade como a palma da mão, não tenho como controlar a chuva, o trânsito e o tempo. Atrasado para a felicidade, sofro com o tic-tac do relógio. Prometo a mim mesmo: na próxima vez eu saio mais cedo, para não me estressar na caminhada. Mas esta é uma promessa que já fiz e refiz várias vezes.
Planos feitos dois anos antes e, na contagem regressiva, com passagem comprada meses antes da partida, checagem de documentos, cartões de crédito, hospedagem, dinheiro para os gastos da viagem. A partida começou na segunda-feira, dois dias antes da abertura da bienal. Despedida dos familiares, amigos, trabalho. Em férias, o tempo parece não passar, os dias e as horas se arrastam e nada se mostra urgente. A caminho do aeroporto, me deparo com avenidas coalhadas de carros preguiçosos, buracos traiçoeiros e passageiros atrasados que fazem sinal para todos os ônibus e taxis.
O jeito é tentar outras ruas, desistir da Bonocô e pegar a D. João VI. No começo, o trânsito flui, mas depois trava. O tempo, implacável, não tinha compromisso comigo. Outra desistência, outra alternativa. Agora é a Vasco da Gama que parece se espreguiçar, mas se move lentamente, como uma jiboia que acabou de fazer sua refeição mensal.
Aos poucos me aproximo da orla, Avenida Otávio Mangabeira, em direção a Itapuã. No primeiro sinal de lentidão, retorno, pego a Pinto de Aguiar e vou à Paralela. Vontade de voltar pra orla, ao menor sinal de engarrafamento. Mas agora é arriscado mudar o rumo. O tempo insiste em me cutucar com vara curta. Não aceito a provocação e sigo em frente. No aeroporto, estaciono, pego a fila para despachar a bagagem, saio para pagar o excesso de bagagem, volto e pego o ticket de embarque.
Ainda tenho meia hora e resolvo retirar o carro do estacionamento do aeroporto e colocar em outro, mais distante e mais barato. Já no salão de embarque, corro para não perder a última chamada, tomo meu assento. O corpo relaxa, os ombros enrijecem os olhos teimam em fechar. O cansaço físico e mental, finalmente, me dominam. Não quero nem pensar na maratona de dez dias lançando ou participando de dezessete lançamentos de livros na 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Meu pensamento agora é outro: traçar estratégias de vida, de como fugir de tantos compromissos, descansar mais, curtir mais e melhor a família e amigos, me divertir, sem gastar tanto tempo dentro do carro ou teclando na internet.
Como a vida começa ou recomeça aos quarenta, preciso desacelerar. Afinal, criança é frágil e carente de cuidados especiais.
Salvador, 07 de agosto de 2012, voando Gol para São Paulo.