Anjo sem asas
Alimentei um sonho por quatro anos. Um passarinho ficou preso numa gaiola de ouro, onde tinha de tudo. Comida, luz, água, cuidados. Ensinei o lindo pássaro a trinar, cantar em melodias que ele não conhecia.
Eu dormia e acordava vendo-o crescer, no sonho, se emplumar, sofrer a amargura de estar sem liberdade. Meu coração, a dez mil quilômetros, sentia a falta, a fala, as peninhas tomando corpo sem mim.
A longa espera, do outro lado do oceano, enchia meus olhos de água salgada, que escorria peito abaixo. Aqui, eu cuidava do sonho, alimentava a esperança e dormia noites e dias pensando no reencontro, quando eu pudesse abrir a portinhola e soltar o bichinho.
O tão esperado dia chegou e eu senti medo, ansiedade, entorpecimento. Não queria soltar o passarinho, não queria vê-lo voar. Meu sonho voaria junto, pousaria num alto e inalcançável galho, onde eu jamais poderia subir. E o sonho se fez carne, nua e crua. Sem rodeios, sem floreios, numa picada certeira em minha frágil prisão. Agora, não sei se choro ou se sorrio. Perdi um amor, mas ganhei uma amizade...