"Quando fui assistir à peça "Ó Paí, Ó", fui de coração e peito abertos. Sempre vou assim ao Teatro Vila Velha, pois sei que ali só se representa trabalhos de ótima qualidade. Desta vez, tomei um susto. Além da qualidade, havia no palco um realismo cru, visceral, expondo todas as feridas de uma cidade maravilhosa, porém cheia de cicatrizes e de mazelas geradas pela desigualdade, pela miséria e pela pobreza que é fomentada pelos nossos governantes.
O Pelourinho que vi no palco do "Vila", foi o mesmo Pelourinho que eu vi em 1993 quando cheguei pela primeira vez à capital baiana. Um bairro pobre, com muita miséria em suas ruas e cortiços, a violência, a droga e o descaso das autoridades constituídas. E quase nada mudou. Expulsaram moradores dali, fizeram uma maquiagem no casario, mas a miséria ainda impera e a droga ainda é consumida e comercializada, a prostituição nos becos e praças (além daquela executiva, mais disfarçada) é o que mais se percebe naquele espaço de caos urbano.
E a peça consegue nos remeter a um tempo que está distante, a situações de selvageria e de luta sangrenta pela sobrevivência, em que alguns moradores se metem com o tráfico de drogas, outros com a prostituição, outros com o assassinato de crianças etc. Fiquei chocado em ver o que não queria ver (ver o que eu fingia não ver, como faz a maioria das pessoas "de bem") e aplaudi de pé ao elenco, à produção, à técnica e a tudo o que compôs a apresentação.
Quando o filme entrou em cartaz, não pude deixar de conferir. E a sensação foi a mesma, agora ampliada pelas câmeras e cenários que estavam impecáveis, sem falar na atuação de Lázaro Ramos, Wagner Moura e a todo o elenco que merece aplausos."
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 24/05/2007