Valdeck Almeida de Jesus
O poeta da verdade!
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Cordel da Falta de água em São Paulo


A seca aqui no nordeste
Sempre foi uma piada
Todo mundo já sabia
Mas ninguém fazia nada
Porque pobre quando morre
Não faz falta pra moçada.
 
Todo dia sofrimento
Gente magra a sofrer
Fome e peste em todo canto
Gente e bicho a morrer
Mas de nada adiantava
Reclamar pra vosmecê.
 
O governo não ouvia
O chorar e o lamento
Porque nada incomodava
Nem causava movimento
Ninguém ficava sabendo
Deste nosso sofrimento.
 
Vez ou outra uma revista
E até mesmo um jornal
Dava logo uma manchete
Falando e falando mal
A culpa toda era nossa
No povo metendo o pau.
 
Vaca magra e rio seco
Era só o que se via
Poeira, barro e viola
E faltava alegria
No sertão fio chorava
E até a mãe não lhe via.
 
Grito, choro, sofrimento,
Gente morrendo de fome
Homem, menino e mulher
Muitos deles já sem nome
Porque pobre quando morre
Já morreu tarde, seu home...
 
Doença e fome levava
Muita gente nessa hora
Muitos indo pra São Paulo
Partindo pro mundo a fora
Pra buscar sobrevivência
Pra tentar uma nova aurora.
 
Família perdendo filhos
Que se foi pra trabalhar
Para longe de sua terra
Tentar a vida ganhar
Pra viver uma nova guerra
Tentar a sorte por lá...
 
Mas nada disso importava
Se o povo que morria
Mudava de terra ou mudava
Para outra freguesia
Era pobre do nordeste
Onde ninguém conhecia...
 
Mas agora a coisa é outra
A seca foi pro sudeste
Saiu da terra dos pobres
Foi se embora do nordeste
Onde tinha homem forte
E mulher cabra da peste.
 
Agora a coisa mudou
Tem até televisão
Em campanha pelo povo
Pra levar a salvação
Todo mundo em polvorosa
Pra deixar São Paulo são.
 
Falta d’água em São Paulo
Tem tristeza e comoção
Tem o povo se acabando
E todo mundo chorando
Pedindo para São Pedro
Alívio pra aflição.
 
Cidade grande demais
Com governo desatento
E o assunto é climático
Governo ficando lento
A coisa ficando preta
E o povo em desalento.
 
Água muita ali havia
E ninguém a preocupar
Com o gasto exagerado
Do povo a se banhar
Lavando carro e calçada
E sem medo de acabar...
 
Muito rio pela cidade
Que viraram marginais
Esgoto de lixo podre
Com fedor que é demais
Destruindo a natureza
Olhe, isso num se faz!
 
Arrancaram toda a mata
Secaram mananciais
Hoje tem estrada preta
Onde havia manguezais
Riacho virou esgoto
Tudo sujo por demais!
 
A cidade de São Paulo
Era toda uma piscina
Lindeza pra todo canto
Muito home e muita mina
Todo mundo muito alegre
Acordando na matina.
 
A cidade acordava
Toda branca e toda boa
O apelido do estado
Era Terra da Garoa
Lugar pra novo e pra velho
Pra nenê e pra coroa...
 
Hoje o clima tá danado
Parece que é vingança
Tudo cinza na cidade
Agora é tudo lambança
É sujeira em todo lado
E o povo é quem dança.
 
Falta água até pro banho
Pro café e tudo o mais
Só São Pedro pra salvar
Pra não sair nos jornais
Que São Paulo virou seca
E agora, Deus é Mais!
 
Sem floresta não tem água
Sem represa acaba tudo
O povo passando seca
E o governo tá surdo
Nem pergunta e nem responde
Tá se fazendo de mudo.
 
Muita gente que sorria
Do nordeste do Brasil
Agora sente na pele
O que o nordeste sentiu
E todos juntos agora
Querem água no barril...
 
Na hora de trabalhar
De achar uma solução
Muda até rio de lugar
Para outra direção
Querendo água encontrar
Até debaixo do chão.
 
O problema é maior
E exige atenção
Pois envolve agricultura
Onde tem a plantação
Se faltar água na roça
Falta carne no balcão.
 
O planeta tá em crise
E temos que lhe ajudar
Cuidar bem da natureza
Para a água num acabar
Pois sem água e sem comida
A guerra vai começar.
 
Pra cuidar da natureza
Vamos economizar
Limpar a beira dos rios
E muita árvore plantar
Porque sem planta não vive
Viver sem água não dá.
 
Vamos parar de egoísmo
Para em todos pensar
Todo mundo tem direito
De beber e respirar
Se um gasta e outro suja
Um dia vai acabar.
 
Não podemos esperar
Somente da natureza
Vamos logo transformar
Nossa terra em nobreza
Um paraíso com água
E teremos mais beleza!
 

 

 

O cordel "Cordel da Falta de água em São Paulo" é uma crítica poética que aborda a escassez de água enfrentada em São Paulo, uma cidade grande e populosa do Sudeste do Brasil, que contrasta com a realidade histórica de seca e sofrimento vivenciada no Nordeste do país.

O poema começa lembrando da seca no Nordeste, que, apesar de ser uma triste realidade, muitas vezes passava despercebida ou era negligenciada pelas autoridades. A narrativa sugere que os problemas do Nordeste não recebiam a devida atenção e empatia por serem pessoas pobres, enquanto agora, com a falta de água em São Paulo, a situação mudou.

O autor destaca como a situação de escassez de água em São Paulo gerou comoção e como a cidade se encontra em uma crise hídrica. Critica também o desperdício de água na cidade, como lavar carros e calçadas, sem considerar as consequências.

Outro ponto abordado é o desmatamento e a destruição da natureza, que contribuíram para a diminuição dos mananciais e represas, levando à falta de água na cidade. O poema faz um apelo para que se cuide da natureza e se preserve a água para garantir a sobrevivência de todos.

A mensagem final é sobre a importância de pensar coletivamente, evitar o egoísmo e adotar medidas conscientes para economizar água e preservar o meio ambiente. O poema ressalta que todos têm direito à água potável e um ambiente saudável, e que é dever de cada um cuidar do planeta para evitar uma crise ainda maior.

A linguagem do cordel é leve e de fácil compreensão, utilizando versos rimados para contar a história e transmitir a mensagem ao leitor. É uma forma criativa e poética de abordar um tema importante e urgente, mostrando como a literatura pode ser uma ferramenta para a conscientização e reflexão sobre questões sociais e ambientais.

 

 

 

 

Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 03/02/2015
Alterado em 25/07/2023
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