O escritor e poeta Valdeck Almeida de Jesus concede entrevista a Vagner Pax, em Salvador
Valdeck fala de sua vida, de sua obra e de sua atuação como intelectual e como cidadão
De cara com o escritor Valdeck Almeida de Jesus - Por Vagner Pax (*)
Falando sobre Valdeck
Conheci o escritor Valdeck Almeida de Jesus durante a Primeira Semana de Comunicação da FIN – Faculdade Isaac Newton, em 2005. Naquela oportunidade, aprofundei meus conhecimentos sobre a vida e obra desse artista jequieense, que tem despontado no cenário artístico e literário do Brasil com um trabalho de excelente qualidade, elogiado pela crítica pelo primor de suas obras e pela responsabilidade social que encerra. Valdeck, além de fomentar a cultura, contribui com parte da renda de seus livros para as Obras Sociais Irmã Dulce.
Vagner Pax: Quem é o escritor Valdeck Almeida de Jesus?
Valdeck: Eu nasci e me criei em Jequié, no interior do estado em uma família humilde. Tomei gosto pela poesia desde criança, ouvindo minha mãe contar histórias e cantar músicas para a criançada da rua. Nessa época, a infância do brasileiro era bem diferente de hoje em dia. Não havia computadores, vídeo games e outras tecnologias, que tomam o tempo das crianças e lhes tolhe a oportunidade de brincar, de interagir com outras crianças, de ter uma vida social plena.
Meu primeiro contato com a poesia foi aos doze anos de idade, quando comprei uma coleção com três mine livros, que me encantou com uma linguagem diferente daquela do dia a dia, cheia de metáforas e rimas... Daí em diante passei escrever e nunca mais parei.
Sempre fui muito curioso e lia de bula de remédio a rótulos de xampus. Isso foi me dando suporte para escrever, já que a leitura é parte intrínseca da escrita e segundo Aleilton Fonseca, imortal da Academia de Letras da Bahia, todo bom leitor tem potencial para se tornar um grande escritor. Um dia serei um grande escritor (risos).
Na escola eu me destacava, pois já possuía um vocabulário avançado para minha idade, devido ao meu vício por leitura. Tudo foi sendo incentivo para continuar na arte da escrita.
Vagner Pax: Eu vejo material seu publicado em vários sites e na mídia em geral. Você me parece um caldeirão borbulhante de idéias e está sempre em atividade, não é? O que te move a isso?
Valdeck: Eu sou uma pessoa muito perspicaz e indignada por natureza, modéstia à parte. Não consigo ficar parado diante de uma injustiça, seja com crianças, negros, brancos, loiros, pobres ou ricos. Essa minha indignação me move a protestar. Nem sempre é possível verbalizar o protesto no momento em que a injustiça ocorre, por isso eu acabo desabafando através da escrita, depois de refletir muito sobre o fato acontecido. É assim que surgem meus trabalhos de poesia, crônicas e contos. Muitos dos meus contos, por exemplo, são baseados em fatos reais ocorridos em minha vida ou no dia a dia dos soteropolitanos ou de pessoas de outros estados e cidades.
Eu sou uma pessoa muito ansiosa e isso me faz produzir sem parar, sempre. Não consigo iniciar uma poesia ou um projeto de um livro e parar no meio, por exemplo. Quando me entrego a um projeto vou até o fim, até esgotar todas as possibilidades de viabilização. Já fiz cursos de fotografia, de relações humanas, teatro, canto, redação, etc. Já entrei em várias faculdades e não concluí nenhuma, pois o processo educacional formal me aprisiona. É quase impossível me manter sentado numa cadeira escolar por uma noite inteira, sem produzir nada, somente copiando textos de um quadro negro, o que me dá a idéia de perda de tempo. Com tanta vida fervendo fora da sala, eu me sinto meio inútil se não estiver participando do processo criativo da vida ao vivo.
Vagner Pax: O que você traz de novo para o cenário literário baiano?
Valdeck: Trago a minha experiência de vida, traduzida em reflexão sobre a pobreza e a riqueza, a justiça e a injustiça, trago novos paradigmas e a possibilidade de quebrar tanto os velhos quanto os novos. Acredito que não se dá conselhos, como já diziam os mais velhos. Mas experiência de vida é sempre muito bem vinda, para que as novas gerações não precisem passar pelos mesmos problemas que seus antepassados viveram.
Trago também uma oportunidade a novos poetas e escritores do Brasil e particularmente da Bahia, pois estou patrocinando uma antologia de poesias, com edição anual. A primeira edição já foi lançada em outubro de 2005 e durante a 8ª Bienal do Livro da Bahia. A segunda, já está no prelo e a terceira se encontra em andamento, com inscrições abertas até 31.12.2007. Esta antologia acabou se transformando no Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia.
Vagner Pax: Voltar à sua terra natal – Jequié – fazendo lançamentos de livros, entrando pela porta da frente em universidades e outros centros acadêmicos, qual é a sensação?
Valdeck: Eu sempre tive vontade de entrar em vários ambientes onde se respirasse a cultura e a literatura brasileira e baiana. No entanto, dada a minha condição econômica, jamais pude fazê-lo durante minha adolescência e juventude. Agora, já na idade adulta, e com a expressão literária que administrei, sou convidado para seminários, lançamentos de livros etc. Isso me dá muita satisfação, principalmente porque tenho oportunidade de levar outros escritores que também procuram um lugar ao sol. Minha alegria é poder ser uma ponte entre novos poetas e o mercado editorial e a mídia, para que eles cheguem a seus leitores.
Voltar a Jequié é sempre uma experiência muito boa. Há uma passagem bíblica que diz que o bom filho sempre retorna à casa do pai. Não sei se fui um bom filho, no entanto... Jequié foi meu pai e minha mãe, pois foi ali que sobrevivi por mais de vinte anos, enfrentando a dureza da vida no sertão. É ali que vivem muitos amigos e parentes e é sempre uma alegria quando eu tenho oportunidade de reencontrá-los para um bate papo ou para tomar um cafezinho, que é um costume de cidades do interior como Jequié, em que a amizade e o companheirismo ainda reinam no meio do caos e o jogo de interesses em que se transformaram os relacionamentos modernos.
Vagner Pax: Quais os livros que você já lançou e onde encontrá-los?
Valdeck: “Jamais Esquecerei do Brother Jean Wyllys”, coletânea de mensagens, poemas e crônicas em homenagem a Jean Wyllys” e participação em mais de vinte antologias. Estou lançando um novo poeta baiano, o Leandro de Assis, com o livro "Sou todo poema", pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores (Rio de Janeiro) e "Poemas que falam", resultado de uma oficina literária realizada durante minha exposição na 8ª Bienal do Livro da Bahia. Poemas que falam reúne poesia de crianças de todas as idades, e adultos de todas as partes da Bahia. Os livros estão à venda nas melhores livrarias do país e através dos correios, mediante pedido via e-mail.
Vagner Pax: Fale um pouco de você, de sua vida, de sua carreira, numa rapidinha.
Amor – sem amor ninguém vive. Estou amando.
Sonho – ser reconhecido pelo meu trabalho.
Amigos – imprescindíveis.
Família – minha referência no mundo.
Religião – todas que tiverem Deus.
Sua receita para o os iniciantes – Trabalhar com profissionalismo. A fama é efêmera e pode vir ou não. O que importa é a satisfação de fazer o que se gosta. Como sempre diz André Mustafá (diretor de teatro) "O processo é muito mais importante que o resultado final". Aos iniciantes e aos veteranos sempre recomendo que vivam a vida, pois a mágica dura pouco, e quando o coelho sai da cartola a magia perde a graça e o encanto...
Contatos com o escritor Valdeck Almeida de Jesus
e-mail valdeck@hotmail.com
fones 71 3243 5416 e 8805 4708
site www.jeanwyllys.com
literatura www.literaturaecritica.blogspot.com
Vagner Pax é promotor de eventos, Relações Públicas da Faculdade Isaac Newton – 5° Semestre, fotógrafo.
e-mail vagnerpax@hotmail.com - fone 71 8855 4379
Foto: Valdeck Almeida e Jean Wyllys