Por: Jacqueline Aisenman (*)
Estava aqui pensando na maneira de começar a escrever o que pretendo escrever. Pensei, pensei... e nada! O assunto para mim é desagradável, me incomoda por sua falta de conexão com a realidade. Então continuei pensando em como iniciar esta conversa. Cheguei à conclusão que não há uma forma melhor e nem palavras melhores. O assunto, em seu ridículo, fala tanto por si mesmo que o mais que eu possa falar para começo de conversa, já cai no lugar comum. Mas eu quero, assim mesmo, deixar registrado o meu pensamento. Então vamos lá.
Começo com as expressões que me vieram à mente quando li a primeira vez a manchete: Que gentinha sem-vergonha na cara! Que administração mais vazia! Que falta de competência! Que bando de ladrões!
Pronto. A partir daí, lá vou eu pensando e falando sozinha.
Quem, afinal, está à frente de um Ministério, dito da Cultura e que comete estas barbaridades, só apoiando (e como apoiam, e com quanto dinheiro apoiam!) gente que tem recursos financeiros suficientes para bancar seus projetos literários, artísticos, culturais, sejam eles quais forem? Quem são os NOSSOS funcionários (porque funcionário público é funcionário do povo) que estão distribuindo verbas para projetos que poderiam ser patrocinados pelos próprios requerentes ou que poderiam ter patrocínios privados facilmente?
Quem é esta gente que não dá a mínima para a cultura popular, que não enxerga a quantidade imensa de projetos de brasileiros incrivelmente talentosos que se espalham por todo o país?
Há gente suando para realizar projetos culturais, para levar ao povo a cultura que o povo necessita e não tem acesso. Há pessoas dedicando a vida inteira a projetos magníficos que chegam às favelas, ao interior, aos bairros esquecidos, às cidades mais longínquas.
Gente talentosa, capaz, forte, que faz vibrar a cultura brasileira dentro e fora do Brasil sem que o Ministério da Cultura sequer tome conhecimento. Ou, se toma conhecimento, ignora solenemente.
E daí vem uma cantora qualquer (sim, uma cantora qualquer) e numa simples demanda de subsídio para escrever sua própria biografia (que egocentrismo aqui nem tem limites) recebe um benefício do estado de trezentos e cinquenta e seis mil reais. Alguém tem noção disto? Alguém já fez as contas?
Pois eu fiz! Digam vocês que escrevem e editam a duras penas, sozinhos, sem patrocínios e sem subsídios: Quem é que precisa de RS 356.000,00 para fazer UM LIVRO? Com este valor poderiam ser realizados muitos, muitos, muitos livros!!! E de gente boa, talentosa, que mereceria ter sua história contada, fossem biografias, contos, crônicas ou poesias.
Leio diariamente textos enviados para a revista Varal do Brasil. Leio também os livros que recebo de novos autores e autores que estão há um longo tempo pelas estradas da literatura e posso afirmar que sim, temos muita gente poderosa, cheia de talento e que poderia ter uma verdadeira chance no mundo elitista da cultura brasileira se ao menos recebesse uma mínima chance.
No entanto, o que temos? Temos um ministério público que NOS PERTENCE e NOS DEVE SATISFAÇÕES DE SUAS AÇÕES fazendo pouco com o dinheiro que NÓS PAGAMOS através dos IMPOSTOS PÚBLICOS.
Temos um Ministério da Cultura que faz pouco caso de toda a parte da população brasileira que se dedica verdadeiramente à cultura e que sequer se dá ao trabalho de investigar o que vem acontecendo culturalmente na realidade do povo no país e quem são os protagonistas destas revoluções culturais que beneficiam as populações.
Enquanto isto, as cláudias leites e outros mais da mesma categoria, vão arrebanhando a atenção e o dinheiro PÚBLICO para realizarem seus projetos sem real valor cultural e sem a menor importância para noventa e nove por cento da população interessada em cultura.
O que isto nos diz?
Ao relegarem o povo a um plano de inexistência, os dirigentes e funcionários do MINC estão apenas enviando uma mensagem que não podemos mais ignorar: Nós, que trabalhamos REALMENTE pela cultura, não significamos NADA para eles e jamais teremos apoio.
Finalmente, e para não escrever até amanhã sobre este assunto que me faz muito mal, encerro dedicando meu pensamento ao amigo baiano Valdeck Almeida de Jesus, grande batalhador da cultura popular e que nunca recebeu apoio para nenhum de seus projetos. Ah, e Valdeck tem sua biografia editada e distribuída por ele mesmo que já até saiu das fronteiras brasileiras. Por esforço e mérito dele mesmo e de mais ninguém. Porque os valdecks da vida brasileira, se forem esperar pelo Ministério da Cultura do Brasil para realizarem seus projetos, jamais o farão porque não são nem notados pelo dito órgão ou por quem quer que seja que esteja no comando das ações (ditas) culturais no Brasil.
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Jacqueline Aisenman por ela mesma:
Nascida em Laguna, Santa Catarina, terra de pescadores e poetas, de heróis e guerreiros.
Sou um pouco de cada: pesco letras, faço poemas, travo batalhas heroicas com a vida e, nestas guerras, muitas vezes sou vitoriosa....
Noutras, apenas observo. Filha de pais abençoados. Mãe de filhos muito amados. Esposa de um homem bravo. Meu nome é Jacqueline, mas pode me chamar de poeta!