Valdeck Almeida de Jesus
O poeta da verdade!
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Sertão Glauberiano
 
 
           Este espetáculo foi basicamente fruto dos princípios dos ensinamentos gerais coletivos em função das atividades relacionadas às artes cênicas com o objetivo de empregar em todos os participantes os diversos processos de amadurecimento da psicologia e conscientização numa transformação para a elevação profissional do talento interno que habita em todos que adquiriram no decorrer do processo o chamado “alma de artista”, alma de desenvolvimento, de aprendizado, de ser notado e acima de tudo valorizado pela sua própria ação justa e sensata. Sertão Glauberiano - Primeira montagem da Cia. Anjos da Ema, criada através do projeto social Arte Cidadã e filiada a AAVE – Associação de Apoio à Várzea da Ema com parceria da Petrobrás. Esse projeto é desenvolvido no próprio sertão de Várzea da Ema, como se diz no texto da peça: “Um lugar perdido no nordeste da Bahia”. A montagem tem uma hora e meia de duração, sinteticamente abordamos a saga do sertão baiano com personagens típicos nordestinos, sobretudo navegando no universo cinematográfico do cineasta Glauber Rocha, com trechos de cenas do primeiro filme integralmente de sua autoria, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”(1963), trechos de textos fruto de uma pesquisa sobre o próprio Glauber, textos e cenas de três obras literárias do escritor baiano Eldon Canário,”Sob a Égide do Amor, Os Mal Aventurados do Belo Monte e Cativos da Terra”, dentre outros trechos de textos dos poetas Jorge Mautner, Fábio Paes e Afonso Penna com suas interferências textuais. Penna, além de dirigir, produzir e adaptar os textos, também atua no espetáculo com os participantes do projeto. Este é o quarto espetáculo de direção de Afonso Penna que comanda em Salvador a Cia. Psicodélicos de Teatro. Abordamos a Estética da Fome com inspiração no movimento artístico-cultural Cinema Novo, capitaneado pelo próprio Glauber Rocha nos anos 60. Na montagem há personagens comendo terra, roubando e matando para comer, fugindo feito loucos, sujos, feios, descarnados, pedindo esmolas, festejando a própria miséria. Há também cenas poéticas, de amor com muita emoção, algumas pitadas de humor vindas dos personagens típicos do sertão. Cenas festivas, tiroteios, mortes e vidas secas são vistas com muita clareza pelos nossos futuros brilhantes atores profissionais. Procissão, religiosidade, expressões de pura fé entre os fiéis católicos do local, o massacre de Lampião à Várzea da Ema, a importância da figura de Antonio Conselheiro, a sangrenta cena de morte do personagem Corisco tendo sua cabeça decepada pelo personagem Antonio das Mortes para ser deixada para o Presidente da República. Os personagens evoluem-se na fome pela busca de matar a fome, tocam-se violentamente, rolam no chão, se distanciam, se comem com os olhos com planos de mãos e expressões corporais e faciais que são montados em alternância no plano terrestre. Na cena da abertura podemos discernir os traços específicos do miserabilismo social em coletivo na estética dos sintomas trágicos com forte presença da natureza num tratamento do espaço e enquadramento. Queremos situar a paz e a guerra da cultura do sertão em termos menos reduzidos que caracterizam a análise do espectador. O amor que esta violência encerra é tão brutal quanto a própria violência, porque não é um amor de complacência ou de contemplação, mas um amor de ação e transformação. O sentimento de colaboração humana renova e revela neste espetáculo uma nova categoria de novidades vindas dos próprios participantes do projeto, da forma mais emocionante e surpreendente, mas é necessário que a velha cultura do sertão seja revolucionária com inovação. 
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 20/08/2007
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