A culpa é do poeta, da poesia?
Ontem, 18.04.2018, foi dia de tirar selfie com meninos e meninas da Artebagaço - Associação Cultural Odeart, a convite de Thi Zion. Mas foi também dia de bate papo, olho no olho, sobre cidadania, autoestima, luta contra os preconceitos e todos os tipos de crimes de ódio, principalmente o racismo, o machismo…
De quem é a culpa de o livro não circular, porque os leitores não leem, em que parte da cadeia produtiva a leitura empaca, quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Respeito às teorias à parte, cansei de esperar vinte anos por uma promessa de espalhar poemas. Eu mesmo fui arregaçar as mangas e botar a mão na massa. E encontrei outros e outras tantos e tantas poetas e poetisas, que já caminhavam há tempos nessa jornada…
Me juntei a alguns artistas da palavra individuais e a grupos, projetos e coletivos, e estou na batalha fazendo o trabalho de formiguinha. Não sei se vou mudar o mundo, ou as mentes, mas faço do sonho realidade, encaro engarrafamentos, invisto em distribuição gratuita de livros, descubro, junto com os sonhadores, que a poesia está na música, no cabelo crespo de uma menina, no olhar atento de um menino, no piercing e cabelo azul de um rapazinho, no suco de caju em caixa e no biscoito doce servido no lanche…
Quebradas, subidas, chuvas, trajetos tortos, passando a hora de correr para outro evento para tirar fotos (e recitar, e ouvir os mais velhos e os mais novos: isso a selfie não mostra!), e a satisfação de mais um dever cumprido. Saio da Odeart com o coração amolecido, a identificação com fomes diversas de minha infância e juventude, a sede de ser médico, enfermeira, músico, chef de gastronomia; saber que as referências, como Thi Zion e Geilson dos Reis são vivos nas mentes desses estudantes de ensino médio, que o “Geilson da UNEB” é seguido por novos e velhos…
Sim, a culpa é da poesia, e do poeta, e do livreiro, e do mediador de leitura etc… quando não saem dos lugares de conforto (acadêmico, profissional, ideológico e que tais). Eu também devo ter muitas culpas, mas estou me redescobrindo faz tempo. Não me penitencio, não quero jogar pedras na prostituta. Simplesmente “faço autopromoção”, promovendo, junto, os meus, aqueles em quem eu me espelho, porque, sem essa utopia, de nada serve minha poesia.
Ah, e não ando só. Giovane Sobrevivente foi citado e declamado. Sandro Sussuarana (“Quer ser perigoso, vai ler um livro”), Sarau da Onça, Sarau da Laje, Slam Deixa Acontecer foram citados. A “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade foi lida e comentada, em comparação com a “Quadrilha”, de Lívia Natália. É isso, a selfie não mostra tudo…