Fui condenado à morte
Levaram a parte do Recôncavo:
Minha mãe (Amargosa-BA) e meu pai (Santo Antônio de Jesus);
Cortaram a parte da Rua da Banca, Rua da Palha, Pau Ferro, Mandacaru-Itaygara, Rua da Bosta (Favelas de Jequié-BA);
Removeram o trabalho na roça aos seis anos (Itagibá-BA);
Excluíram a comida podre, presunto do esgoto do Hospital Prado Valadares, camarões do esgoto (Rio Jequiezinho), folha de bredo, folhas de quiabo, gorduras e cartilagens com bicho de mosca;
Destruíram minha ficha nas Escolas Públicas (Ensino Fundamental e Médio);
Apagaram meu trabalho semi-escravo a troco de café da manhã, almoço e janta (eu podia dormir em casa e passar fins de semana com minha mãe);
Negaram minha descendência indígena (avós pegos a 'dente de cachorro');
Sumiram com minha sexualidade (me disseram optante, devasso, herege, deformado, imoral, doente, aberração);
Me proibiram de ser ateu ou acreditar em vários(as) deuses(as);
Decidiram por mim minhas auto-declarações;
Anularam minhas memórias (não me lembro de meus direitos);
Agora podem me mutilar, assassinar, me pintar de qualquer cor ou me deixar incolor, transparente, sem fronteira, não pertencente a qualquer grupo étnico. Tudo isso, para o fascismo, é moral, cristão e ético.
Salvador, 04 de outubro de 2018
PS: Estou esperando quem vai dizer que é o(a) dono(a) deste poema
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 04/10/2018