Texto recebido via e-mail na manhã do dia 23.09.2007:
Rodney Brocanelli (*)
Depois de provocar estragos à indústria do disco, o Mp3 (arquivos de áudio com qualidade próxima à do CD) parece estar fazendo uma nova vítima: o jornalismo musical. Pelo menos este é o diagnóstico de nove entre 10 especialistas no assunto, entre os quais se destaca Ana Maria Bahiana, competente colunista do sítio Comunique-se <www.comunique-se.com.br>. Para ela, a facilidade de se compartilhar músicas pela internet está criando uma nova geração de ouvintes que não está acostumada a pagar (e nem vai querer), e os novos hábitos dessa "geração Mp3" vão causar reflexos diretos no mercado editorial. O raciocínio é simples: quem não compra CD dificilmente comprará revistas que falam de música. A saída sugerida por vários teóricos da comunicação é que as publicações se dediquem a focalizar um público-alvo mais adulto, acima dos 30 anos.
O fenômeno está se intensificando nos Estados Unidos, mas certamente não vai demorar a chegar ao Brasil (se é que já não chegou). O jornalismo cultural praticado por aqui, porém, tem peculiaridades que devem ser levadas em consideração na hora de se fazer uma análise mais profunda. Nossa crítica musical se caracterizou durante anos por tentar furos de reportagem. Era comum assistir a brigas entre veículos de comunicação (principalmente os impressos) para antecipar a onda do momento ou o artista ou banda que daria o que falar.
Na época pré-Napster isso até funcionou. A tarefa era facilitada por um artifício típico do "jeitinho brasileiro": muitos jornalistas faziam um "cozidão" de informações de revistas importadas do eixo EUA-Inglaterra. Como o acesso a essas publicações era privilégio de poucos, principalmente nos anos 80, muitos coleguinhas fizeram fama e fortuna nesse esquema. Hoje, o internauta mais esperto por muitas vezes chega à informação musical muito antes dos críticos especializados.
Descendo o malho
Talvez fosse mais interessante, nessa fase de transição, investir mais no esforço de reportagem, e não no de "recortagem". Por exemplo: por que nossas publicações dedicadas à música não destacaram repórteres para acompanhar as gravações dos CDs mais recentes do Skank e do Los Hermanos (isso para ficar em dois lançamentos que estão dando o que falar) e procurar colher histórias interessantes de bastidores? Em vez disso, preferiram esperar pelos dois lançamentos para investir no já tradicional esquema "entrevista com as bandas/resenha do álbum".
Outro problema detectado nesse panorama é a ausência total da figura do crítico que analisa a música de uma forma isenta, sem puxar brasa para a sardinha de determinado estilo. Em vários veículos, a crítica acaba departamentalizada. Com isso, temos jornalistas que só se dedicam a falar de rock, e ficam fechados apenas nele. Outros preferem escrever apenas sobre dance music, e nada além disso. Há aqueles que só analisam lançamentos de jazz. O pior de tudo é quando um crítico passa a achar que somente seu estilo preferido é bom, e os outros são uma perfeita droga.
Querem exemplos? Na década de 90, Camilo Rocha mantinha uma seção sobre música eletrônica na extinta revista Bizz. Quantas e quantas vezes ele não dava alfinetadas nos roqueiros? Recuando um pouco mais no tempo, nos anos 80 era comum encontrar artigos de Ruy Castro e Sérgio Augusto na Folha de S. Paulo louvando o jazz e tripudiando do rock sem dó nem piedade. E quando a galera do rock resolve descer o malho nos medalhões da MPB, sai de baixo. Caetano Veloso, Carlinhos Brown, Marisa Monte e cia. têm um inimigo feroz na mesma Folha: o jornalista Álvaro Pereira Jr.
Picaretagem pura e simples
De qualquer forma, parece que dois vilões dessa crise que assola o jornalismo musical já são conhecidos: os blogs e os e-zines. Para um certo articulista da revista Rock Press, eles "são elementos que contribuem para a completa banalização do ofício de jornalista musical". É claro que nessa explosão de blogs e e-zines na internet existem aqueles que não são bons. Este articulista particularmente não conhece nenhum, mas está convencido de que eles devem existir. Como em tudo na vida, porém, vai-se chegar a um momento em que o joio será separado do trigo. É isso que muita gente, incluindo o autor do texto publicado pela Rock Press, não consegue (ou não quer) enxergar. Aqueles que realmente fazem um bom trabalho permanecerão e conquistarão espaço em outros meios. É a lei da seleção natural, que já funcionou tantas outras vezes. E é perfeitamente compreensível esse ataque a blogs e e-zines. Para alguns jornalistas da velha guarda deve ser duro perceber que hoje é bem mais fácil tornar público um texto, graças à internet.
Para encerrar, fica a triste constatação de que alguns jornalistas acabaram enveredando pelo caminho da pura e simples picaretagem. O colunista da Folha OnLine Lúcio Ribeiro denunciou recentemente o caso de uma entrevista falsa com Julian Casablancas, vocalista da banda Strokes, publicada em importante revista ligada a uma emissora de TV. E esta é só a ponta do iceberg.
(*) Jornalista, colaborador dos sítios Ruídos, Canal B, Esquizofrenia, 3am e Papo de Bola; blog pessoal: <http://onzenet.blogspot.com>
Acabei de acordar e já estou navegando na internet. São 8:15hs em Salvador. Minhas férias terminam hoje, e amanhã já estou de volta ao batente.
Estudante de jornalismo (Faculdade Social da Bahia, 1° semestre), um pouco curioso e gosto de ler quase tudo. De blogs a sites, de revistas a jornais...
Quase nunca leio mensagens repassadas ao meu e-mail, mas esta particularmente me interessou, por tratar de um assunto atual e polêmico. A internet está arruinando (?) todas ou quase todas as profissões... Será?
No próprio corpo da mensagem recebida pinço esta frase "vai-se chegar a um momento em que o joio será separado do trigo", que explica muita coisa. O texto integral fala que a internet está dizimando os jornalistas que fazem crítica musical. Explica que a disseminação de música através dos vários mecanismos disponíveis on-line antecipa aos ouvintes aquilo que muitas vezes só chega aos jornalistas bem depois (...).
Afirma que os jornalistas estão perdendo emprego e prestígio por falta de campo e assunto.
E eu fico admirado: Por que os jornalistas também não se valem da internet para desempenharem o ofício de forma investigativa? Por que não se antecipam aos amantes da música com trabalhos excelentes e que chamem a atenção de todo mundo?
A ferramenta está aí, à mão de qualquer um. Ou será que os jornalistas são analfabetos e não conseguem desvender este novo e inevitável meio de comunicação? O mundo é dos mais espertos e dos mais competentes também. Se um profissional fica fazendo a vida toda o mesmo 'feijão com arroz', a perspectiva para ele não é promissora. Ao contrário, para aquele que inova, que se recicla, que se antecipa sempre vai ter espaço e leitores.