Valdeck Almeida de Jesus
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Exclusão e resistência: os desafios dos novos escritores no mercado editorial brasileiro

Ser escritor no Brasil é uma tarefa árdua e desafiadora. Apesar de o país ter um dos maiores mercados editoriais do mundo, com quase R$ 6 bilhões movimentados por ano e mais de 400 milhões de cópias vendidas em 2019, esse mercado é também altamente concentrado e excludente, dificultando o acesso de novos escritores, especialmente os que não se enquadram nos padrões hegemônicos de gênero, raça, classe e temática.

 

Um exemplo recente dessa dificuldade foi a chamada pública para originais de uma grande editora, que gerou frustração e revolta entre os aspirantes a autores. A editora anunciou que receberia 250 livros por dia, durante dois dias, em um formulário online, mas excluiu os poemas da seleção. A demanda foi tão alta que o site da editora travou logo nos primeiros minutos e muitos escritores ficaram sem conseguir enviar seus trabalhos. Em menos de dez minutos, a editora informou que já havia atingido o limite de livros e encerrou a chamada. Saliente-se que o site ficou bugado por três a quatro minutos, sem permitir acesso.

 

Essa situação revela a falta de oportunidades e de transparência no mercado editorial brasileiro, que privilegia as grandes editoras e os autores já consagrados ou alinhados com as tendências comerciais. Os novos escritores, por sua vez, enfrentam barreiras para publicar seus livros, como a falta de recursos financeiros, a ausência de políticas públicas de incentivo à leitura e à produção literária, a escassez de espaços de divulgação e distribuição e o preconceito com determinados gêneros e estilos literários.

 

A cena descrita é um retrato angustiante da realidade enfrentada por muitos escritores no cenário literário atual. A falta de acesso ao mercado editorial é uma barreira que, infelizmente, persiste e afeta inúmeras vozes talentosas e criativas que desejam compartilhar suas histórias e perspectivas com o mundo. A chamada pública para originais, mesmo sendo uma oportunidade aparentemente democrática, revela como a demanda por visibilidade e reconhecimento literário é gigantesca. O fato de um site de editora travar em minutos devido ao alto volume de envios demonstra a sede de escritores em busca de uma chance, mas também aponta para a crueldade da seleção, que muitas vezes se baseia na sorte e no timing.

 

O acesso limitado à internet, como mencionado, também cria uma desigualdade adicional, excluindo aqueles que não têm os recursos ou a conectividade necessários para participar desses processos seletivos. A literatura deveria ser uma expressão universal da criatividade humana, mas as barreiras sistêmicas frequentemente a transformam em um campo onde apenas alguns privilegiados têm a oportunidade de prosperar.

 

Diante desse cenário, muitos escritores recorrem à autopublicação ou à publicação independente, buscando alternativas para fazer seus livros chegarem aos leitores. Essas formas de publicação, no entanto, também apresentam desafios, como a necessidade de investir na produção gráfica e editorial do livro, a dificuldade de inserir o livro nas livrarias e nas bibliotecas, a concorrência com os livros digitais e os audiolivros e a dependência das redes sociais e dos influenciadores digitais para divulgar o livro.

 

A necessidade de pagar por participações em festas e feiras, bem como a contratação de assessores e a negociação com resenhadores, destaca como a jornada de um escritor muitas vezes envolve uma luta árdua para superar essas barreiras impostas pelo mercado. A frustração, a sensação de incapacidade e de uma barreira imensa erguida em frente aos escritores são sentimentos comuns entre aqueles que buscam seu espaço na literatura.

 

Assim, é preciso questionar o modelo atual do mercado editorial brasileiro, que exclui e marginaliza os escritores que não se encaixam nos seus padrões e interesses. É preciso também valorizar e apoiar as iniciativas de publicação alternativa e independente, que ampliam a diversidade e a qualidade da produção literária nacional. E é preciso ainda fomentar a formação de leitores críticos e conscientes, que possam escolher seus livros com liberdade e autonomia.

Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 19/09/2023
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